terça-feira, 9 de agosto de 2016

Do Ensino à Aprendizagem: A Escola Nova



No início do século XX surgiu o mais vigoroso movimento de renovação da educação depois da escola pública burguesa – a Escola Nova. As suas idéias fundamentais já vinham se formando desde a Escola Alegre de Feltre, seguindo pela pedagogia naturalista e romântica de Rousseau. Fundamentava o ato pedagógico na ação, na atividade da criança. A teoria propunha que a educação fosse instigadora da mudança social e ao mesmo tempo se transformasse porque a sociedade estava em mudança.
O pensamento pedagógico antiautoritário foi inspirado em Freud (1856-1939). Para este autor a educação tradicional seria um processo coletivo que visa modelar as crianças com valores dos que vão morrer. A escola seria portanto um agente transmissor do princípio da realidade (superego – externo) frente ao princípio do prazer (ego – interno). Assim, a escola nova e existencial produz um conjunto de críticas à escola tradicional. Sob este ponto de vista abrigaram-se tanto pedagogos liberais quanto marxistas, já que ambos afirmavam a liberdade como princípio e objetivo da educação.
Adolphe Ferrière
Adolphe Ferrière (1879-1960), pioneiro da Escola Nova dizia que a educação nova seria integral, prática, ativa e autônoma colocando a criança no centro das perspectivas educativas. Criticava a escola tradicional por haver substituído a alegria de viver pela inquietude, o regozijo pela gravidade, a espontaneidade pela imobilidade e as risadas pelo silêncio.
O movimento da escola nova valoriza sobremaneira o aprender como questão fundamental do processo educacional. 
Dewey (1859-1952), afirma que o ensino deveria dar-se pela ação e não pela instrução – learning by doing. De acordo com tal visão, a educação é essencialmente processo e não produto se confundiria com o próprio processo de viver.
Sendo o aluno o autor da sua própria experiência, temos o paidocentrismo – aluno como centro – da escola nova. Esta postura gera a necessidade de criação de métodos ativos e criativos também centrados no aluno, sendo esses métodos de ensino, o maior avanço da escola nova.
Kilpatrick (1871-1965), criou o método dos projetos centrado numa atividade prática dos alunos, de preferencia manual. Ele preocupava-se sobretudo com a formação do homem para a democracia e para uma sociedade em constante mutação.
Outra experiência importante foi a de Maria Montessori (1870-1952), médica italiana, que transpôs para crianças normais o seu método de recuperação de crianças deficientes, construindo uma enorme quantidade de jogos e materiais pedagógicos. Pela primeira vez se introduzia no ambiente escolar mobiliário e objetos pequenos para que a criança tivesse pleno domínio deles. 
Outra contribuição foi a de Decroly (1871-1932) com o seu método dos centros de interesses (família, universo, mundo animal etc.), que difere do método dos projetos, porque este não possui um fim, uma tarefa a ser realizada, visa as necessidades fundamentais da criança: alimentar-se, proteger-se contra perigos, etc.
Outra experiência de escola livre foi a de Summerhill, levada a frente por Neill (1883-1973), liberal, não progressista, representando a perspectiva baseada no princípio da afirmação da liberdade sobre autoridade, só conhecendo “como limite o direito e a liberdade do outro.”
A valorização do trabalho entrou definitivamente na prática e teoria da educação, com Freinet (1896-1966). Ele diz que “a escola popular do futuro seria a escola do trabalho[…]Quando o povo chegar ao poder, terá sua escola e sua pedagogia”[…]. A igreja e a burguesia já tiveram as suas pedagogias. O professor teria que ser formado para não obstaculizar o impulso vital da criança.
Piaget (1896-1980) discípulo de Claparède investigou a natureza do desenvolvimento da inteligência na criança. Afirmava que:
[…]”é preciso que o mestre-animador não se limite ao conhecimento de sua ciência, mas também ao conhecimento das peculiaridades do desenvolvimento psicológico da inteligência da criança[…] Compreender é inventar, ou reconstruir através da reinvenção, e será preciso curvar-se ante tais necessidades se o que se pretende, para o futuro, é moldar indivíduos capazes de produzir ou de criar, e não apenas de repetir” (Piaget)
Em mais uma contribuição para a aprendizagem ativa, a crítica de Piaget à escola tradicional é ácida. Segundo ele, os sistemas educacionais objetivam mais acomodar a criança aos conhecimentos tradicionais que formar inteligências inventivas e críticas.
Rogers (1902-1987), valorizava a empatia, a autenticidade. Afirma que o processo educativo deveria centrar-se na criança, não no professor ou no conteúdo pragmático. Atribui grande importância ao educador como facilitador da aprendizagem. Em seu livro Liberdade para aprender, se refere a esse professor ressaltando as características que possui de apreço, aceitação e confiança no aprendiz
[…]”Pode aceitar sentimentos pessoais que, a um tempo, perturbam ou promovem a aprendizagem – rivalidade com um companheiro, aversão à autoridade, interesse por sua própria adaptação.[…]O apreço ou aceitação do facilitador em relação ao aprendiz é uma expressão operacional da sua essencial confiança e crédito na capacidade do homem como ser vivo”.
Descreve o caráter relacional da aprendizagem, e a necessidade de se respeitar as características individuais do aprendiz no processo. E ainda mais, no mesmo livro quando relaciona alguns princípios de aprendizagem traz para o processo também a questão da pertinência do que se aprende dizendo:
“A aprendizagem significativa verifica-se quando o estudante percebe que a matéria a estudar se relaciona com os seus próprios objetivos.”
Na segunda metade deste século uma visão crítica vem desmistificar o otimismo dos educadores novos, em relação à questão ideológica da classe dominante, preparando as crianças para reproduzirem a mesma sociedade e não para transformá-la. Certamente havia algo de errado na educação ao formar homens que se odiavam tanto. Já fizeram duas guerras mundiais[!]
Paulo Freire (1921-1997) denunciou o caráter conservador dessa visão pedagógica, servindo tanto para a prática da dominação quanto para a prática da liberdade. Entretanto, diz ele, ela representou na história das idéias e práticas pedagógicas, um considerável avanço.
O movimento da Escola Nova é complexo, com contribuições do positivismo e do marxismo e levou a desdobramentos importantes para os movimentos que se seguiram.

FONTES:https://oaprendizemsaude.wordpress.com/2008/04/01/do-ensino-a-aprendizagem-a-escola-nova-22/

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