quarta-feira, 22 de junho de 2016

Surgimento do Método Científico



A criação do método científico é atribuída a Descartes, mas tem suas raízes um pouco mais profundas em dois pensadores de nomes semelhantes: Roger e Francis Bacon.

Roger Bacon (1220-1292) foi um dos primeiros acadêmicos de Oxford e o primeiro a defender a experimentação como fonte de conhecimento. Junto com Duns Scotus e Guilherme de Ockham, Roger Bacon foi o responsável pelo que seria a base do empirismo, o pensamento de que a razão e o conhecimento não devem depender apenas da fé mas também dos nossos sentidos, pois podemos aprender aquilo que tivermos experimentado. Com isso, eles separavam o caminho para o conhecimento em dois caminhos distintos: o conhecimento sobre Deus deveria continuar sendo a fé, porém o caminho do mundo terreno, substancialmente diverso do primeiro mundo místico e metafísico, deveria ser as experiências terrenas, as experiências dos sentidos. Estava derrubada a concepção medieval do mundo.

Das discussões desses três pensadores derivaram duas correntes diferentes de pensamento o “construtivismo” e o “positivismo”.

Francis Bacon (1561-1626) foi, porém, quem terminaria por fixar a base do que Descartes transformaria no moderno método científico. Bacon deu ao conhecimento um caráter mais funcional. Segundo ele o saber científico deveria ser usado em prol do desenvolvimento humano e a natureza deveria ser transformada e modificada em benefício do homem. Segundo ele mesmo expressa em sua obra “Novo Organum” é necessário “...investigar a possibilidade de realmente estender os limites do poder ou da grandeza do homem e tornar mais sólidos os seus fundamentos...”. A nova abordagem de Bacon foi fortemente influenciada por descobertas de cientistas como Copérnico eGalileu Galilei que o levaram a propor uma nova abordagem da investigação científica através dopensamento indutivo em contraposição ao pensamento dedutivo que desde Aristóteles predominava sobre as ciências.

Mas foi na obra “Discurso do Método” que René Descartes (1596-1650) lançou de fato, os fundamentos do método científico moderno. Embora Descartes tenha concordado com Bacon no sentido de que a natureza deve ser entendida e modificada em favor do homem, ele discordava no sentido de que para ele os sentidos devem ser questionados e não constituem o caminho para o conhecimento verdadeiro. Segundo Descartes a única coisa da qual não se pode duvidar é o pensamento (o que o leva à máxima “cogito ergo sum” – “penso, logo existo”) que é fruto da razão, a única da qual se pode ter certeza.

O método cartesiano (de “Descartes”) foi o que possibilitou o desenvolvimento tecnológico e científico sem precedentes das Eras Moderna e Contemporânea.

Por outro lado, Descartes transcende ao pensamento baconiano ao propor uma instrumentalização da natureza, a explicação matemática e racional dos fenômenos e das coisas e a sua mecanização: tudo passa a ser entendido em razão das partes que o compõem: para se compreender o todo, basta compreender as partes. O pensamento indutivo proposto por Bacon sai de cena para dar lugar à dedução cartesiana onde as experiências servem apenas para confirmar os princípios gerais delineados pela razão.

O método científico proposto por Descartes e que predominou até o final do século XIX e o início do século XX, ficou conhecido como “Determinismo Mecanicista” e se resume aos seguintes princípios: o conhecimento é o resultado da captura de verdades por um sujeito sobre um objeto; o sujeito percebe o objeto a partir de exercícios sensitivos e racionais que devem ser organizados de forma metodológica a fim de se obter o conhecimento verdadeiro; o objeto é separado do observador; conhecer o objeto é igual a dominá-lo; para conhecer o todo, basta conhecer as partes; o método cartesiano, nesse sentido, implica em uma simplificação onde o objetivo é encontrar lei universal que explique todas as coisas; o mundo pode ser expresso por meio de equações matemáticas; o mundo deve ser compreendido, dominado e modificado em favor do homem.
Estava enfim definido o método científico. Porém ele ainda receberia mais uma contribuição importante de outro grande pensador, Auguste Comte (1798-1857).

Comte em sua “Lei dos três estados” afirma que o conhecimento humano havia evoluído do estado teológico, onde o conhecimento se voltava para explicação do mundo através do divino e sobrenatural, para o estado metafísico, onde os agentes sobrenaturais do primeiro estado concebem em si mesmos os fenômenos naturais. E que este teria evoluído para um terceiro e último estado, o estado positivo, onde não mais se procuraria as causas últimas das coisas mas as leis efetivas da natureza.

Comte defendia que a natureza é composta por classes de fenômenos e, portanto, a ciência deveria obedecer esta ordem para descrevê-la. Assim, ele organiza todo o conhecimento da natureza em cinco ciências distintas entre si: a astronomia, física, química, filosofia e a física social. A estas ele ainda somaria a matemática que diz tratar-se da ciência superior devido ao seu grau de abstração e ao fato de que todas as outras dependem também dela. Desta forma, Comte leva o método de Descartes das ciências naturais para as ciências sociais e humanas completando o método que seria seguido por muitos anos ainda.

Mas, como a ciência é um campo em constante mudança, o método científico de Descartes passa a ser questionado no início do século XX, após as descobertas de Einstein sobre a relatividade e de Niels Bohr sobre a física quântica que põe em cheque um dos preceitos fundamentais do modelo mecanicista de Descartes. Mas isso já é outro assunto...


Fonte: http://www.infoescola.com/ciencias/surgimento-do-metodo-cientifico/

A RAZÃO CARTESIANA




Para que seja possível compreendermos a ascensão dos princípios da razão iluminista, somos obrigados a recuar nossos olhares para outras tantas manifestações que embasaram as do século XVIII, o “século das luzes”. Entre elas, damos destaque especial ao debate empreendido pelo filósofo francês René Descartes. Vivendo no século anterior ao iluminismo, esse intelectual lançou os avatares que explicam muitas das concepções defendidas entre os ilustrados.
Segundo este autor, a razão é a única via segura pela qual o conhecimento do mundo pode ser obtido. Particularmente, a visão racionalista de Descartes defende a possibilidade de alcance de uma verdade absoluta, incontestável. Mas afinal, como seria viável desenvolver o conhecimento em busca desse tipo de verdade superior? De acordo com o pensamento cartesiano, era necessário primeiramente duvidar de todo conhecimento acumulado anteriormente sobre um assunto.
Passado o momento em que as novas questões sobre o objeto surgiram, era necessário que a experimentação e a observação fossem realizadas para a abertura de novos caminhos que pudessem explicar melhor aquilo que foi estudado. As novas conclusões elaboradas deveriam, dessa maneira, compor um conjunto de leis que pudessem esgotar todos os aspectos que se relacionam com a compreensão do objeto. À medida que se mostrassem eficazes, essas leis comprovariam a tese elaborada por um estudioso.
Esse caminho constituído pela dúvida, a experimentação e a formulação de leis demonstra visivelmente as influências que viriam a predominar na constituição dos preceitos racionalistas do iluminismo. No século XVII, a razão cartesiana foi claramente respaldada pelo grande número de obras, teorias e concepções desenvolvidas no âmbito das ciências da natureza. Áreas do conhecimento como a Matemática, a Física e a Astronomia aplicavam noções semelhantes às que foram sugeridas por Descartes.
Ao chegarmos ao século XVIII, vemos que diversos dos intelectuais que pensaram as instituições políticas, as relações sociais e a economia foram de alguma forma influenciados pelas concepções de verdade, razão e conhecimento anteriormente acumuladas. Do mesmo jeito que Kepler e Newton conseguiram racionalmente teorizar leis físicas e astronômicas, pensadores como Montesquieu e Adam Smith pensavam ser possível compreender e apontar os princípios das instituições humanas.
É bem verdade que essas noções oferecidas pelo pensamento cartesiano puderam estabelecer pontos diversos dos princípios iluministas. No campo político, por exemplo, diversos pensadores do século XVIII concordavam ser imprudente a fusão entre os assuntos políticos e os valores religiosos. Além disso, por meio da reflexão sobre a condição humana, não conseguiam aceitar a validade das tradições jurídicas oriundas do mundo feudal.
Em contrapartida, vemos que as concepções do pensamento cartesiano foram responsáveis pelo desenvolvimento de uma noção bastante rígida de razão. No século XIX, a filosofia positivista passou superestimar o racionalismo chegando ao ponto de não estabelecer os limites que o mesmo possuiu ao representar uma das várias formas que o homem pode entender o mundo. Ao longo do século XX, novas descobertas no campo das ciências humanas e exatas colocaram a razão cartesiana em xeque.


Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola 
Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:
SOUSA, Rainer Gonçalves. "A razão cartesiana"; Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/historiag/a-razao-cartesiana.htm>. Acesso em 22 de junho de 2016.

Televisão Digital: Interativa ou Reativa?

(...) O que temos percebido (...) é que os programas e serviços interativos oferecidos atualmente por algumas emissoras da TV digital, seguem uma programação pré-definida pela emissora de forma que, apenas podemos caracterizar essa interação como sendo reativa, segundo a perspectiva de análise de Primo (2007), pois mesmo que o interagente possa escolher novos caminhos ou clicar em opções diferentes a cada nova entrada no programa, o resultado será sempre aquele que a emissora pré-estabeleceu para o seu roteiro, sem a possibilidade de modificar, alterar ou propor novos rumos.

(...)A TV digital apresentada como interativa é, na verdade, uma TV digital de interação reativa em que cabe ao interagente tão somente selecionar opções e caminhar por trilhas já pré-estabelecidas. Não é oportunizado a ele fazer seu próprio roteiro ou criar novos rumos. 

(...) A falta de interatividade ou de interação mútua na TV digital hoje, não é causada por limitações técnicas, mas, sim, devido a definições que, em última instância, representam interesses políticos, econômicos e ideológicos por parte das emissoras de TV que não desejam modificar o modelo hegemônico de negócio historicamente consolidado com a televisão analógica.

Essas e outras questões estiveram presentes desde o início do processo de implantação do Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD), instituído no Brasil em 2003 por meio do Decreto 4.901/03, que tinha como um dos seus objetivos “propiciar a criação de rede universal de educação à (sic) distância”. Em função do processo de implantação do SBTVD, grande expectativa foi criada em torno do que poderia ser a televisão digital no Brasil, já que um grande consórcio entre universidades e empresas havia sido formado e essas discussões teóricas e técnicas estavam no centro do debate, gerando uma grande expectativa sobre o futuro nessa área. No entanto, em 2006, de forma não satisfatória, foram estabelecidos os padrões para o SBTVD por meio do Decreto 5.820/06. Esse decreto prevê no seu artigo 13 a possibilidade de implantação de um Canal de Educação voltado “para transmissão destinada ao desenvolvimento e aprimoramento, entre outros, do ensino à (sic) distância de alunos e capacitação de professores”.

Mesmo assim, são grandes as possibilidades tecnológicas da TV digital e, para tal, torna-se importante discutir quais as possibilidades trazidas para a educação pela TV, já que ela potencializa a interatividade liberando o pólo da emissão, por meio do canal de retorno, para que todos possam ser interagentes autônomos e capazes para construir interações mútuas. Para a educação isso é de extrema importância, pois não precisamos de mais uma TV, agora em formato digital, que seja apenas reativa, onde os sujeitos não possam ao mesmo tempo buscar informações e disponibilizar seus saberes e suas culturas. A TV digital possui, potencialmente, as condições tecnológicas que precisamos para construir educações em redes digitais que proporcionem uma interação mútua, problematizadora e em constante transformação.

Fonte: AS NOVAS EDUCAÇÕES E OS POTENCIAIS DA TV E DAS REDES DIGITAIS
Simone de Lucena Ferreira – UNIT
Nelson De Luca Pretto – UFBA
Agência Financiadora: FAPESB





Alex Primo

Alex Primo é professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da UFRGS e pesquisador com bolsa produtividade do CNPq. Possui mestrado em Jornalismo (Ball State University) e doutorado em Informática na Educação (UFRGS). Sua tese de doutorado foi premiada pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) e pela Sociedade Brasileira de Informática na Educação (SBIE). Foi secretário da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação – Compôs (2005-2007) e editor dos periódicos e-compôs e Intexto. Prestou consultoria para a equipe do Orkut, na sede do Google, na Califórnia. Publicou o livro “Interação Mediada por Computador: comunicação, cibercultura, cognição”. Atualmente pesquisa gêneros e interações em blogs e conversações online. Coordena o Laboratório de Interação Mediada por Computador (LIMC). Consultor de mídias sociais (Google EUA, Google Brasil). 

Para Primo (2007) há dois tipos de interação: a mútua e a reativa. Esses dois tipos de interação se distinguem, porém não são homogêneos, podendo conter no seu interior intensidades diferentes e características particulares. Interação significa “ação entre” e comunicação é uma “ação compartilhada” (PRIMO, 2007).

Visão:
Na interação mútua, explanada por Primo (2007), os interagentes desenvolvem
relações interdependentes e processos de negociação em que cada um participa da

construção inventiva e cooperada do relacionamento, afetando-se mutuamente.São
exemplos de espaços de interação mútua a troca de e-mails, as conversas nas salas de
bate-papo, debates em fórum de discussão. Nesses espaços os interagentes realizam
modificações recíprocas, pois cada comportamento na interação é construído em virtude
das ações anteriores.
(...)na interação reativa (...) as trocas de mensagens ocorrem dentro de um
script, de um roteiro pré-definido na programação do sistema. São respostas
automáticas em que não há uma problematização ou uma construção colaborativa.