sábado, 19 de janeiro de 2019

Queixa Psicopedagógica

A palavra queixa é usada em diversas oportunidades com diferentes significados, dependendo da situação vivida pelo sujeito. No dicionário Aurélio (1975:1170) a compreensão sobre esse termo corresponde: 
“1. Ato ou efeito de queixar-se. 2. Motivo de desprazer, de ressentimento, de mágoas, de ofensas, de dor.... 7. Reclamação, protesto. 8. Sintoma relatado pelo doente.”

Na concepção psicopedagógica clínica ou institucional a queixa é o primeiro relato de alguém sobre os possíveis problemas de aprendizagem. Esse ato pode ser produzido pelo próprio sujeito ou responsáveis pela dinâmica do espaço onde se apresenta algum sintoma que esteja dificultando os processos da aprendizagem do indivíduo, ou em particular de um grupo, buscando ajuda para solucionar o problema. 

No espaço clínico a queixa é o primeiro passo para o diagnóstico psicopedagógico. Na maioria das vezes a queixa é narrada pelos pais, responsáveis pelo sujeito, ou por profissionais como psicólogos e coordenadores. No entanto, alguns adolescentes, jovens e adultos são os próprios relatores dos seus sintomas. Independentemente do narrador a conduta de escuta do psicopedagogo é valiosa e para isso o profissional deve ter competência necessária para desempenhar este procedimento. A escuta psicopedagógica de uma queixa requer uma postura responsável, porém descontraída – semblante, sem demonstrar surpresa, temor, repulsa ou qualquer outra emoção relacionada à história que está sendo contada. 

As informações ouvidas pelo psicopedagogo devem ser apreendidas apenas no que diz respeito ao sintoma (como o problema da aprendizagem se expressa). Outros dados devem ser anotados: a idade do sujeito, a escola que estuda e o turno, pois outras informações contaminam o psicopedagogo comprometendo o processo diagnóstico. Delineado o sintoma passa-se para o processo da análise e reflexão das falas do relator, estas serão úteis em vários momentos da investigação, pois determinadas frases são carregadas de significados que estão relacionados a aprendizagem dos pais e do próprio sujeito. 

Entretanto, não se deve fazer conclusões precipitadas como afirma Weiss (2001, p.47) ... é fundamental, durante a queixa, iniciar-se a reflexão sobre as duas vertentes de problemas escolares: o sujeito e sua família e a própria escola em suas múltiplas facetas, para se definir a seqüência diagnóstica bem como as técnicas a serem utilizadas."

Após a exposição do sintoma o psicopedagogo esclarece como será o acompanhamento psicopedagógico. O tratamento, quando o Pp é amparado na Teoria Convergente, é realizado em dois momentos: o diagnóstico e a intervenção. O primeiro momento é a investigação das causas do sintoma. A média de atendimento em sessões de 50´ é entre 12 a 15 encontros para maior segurança dos resultados. Estes encontros são realizados com o sujeito individualmente, com os pais ou responsáveis, com a escola e profissionais que acompanham ou já acompanharam o sujeito. 

Todos estes itens devem ser ditos ao relator da queixa, e quando acertado o diagnóstico deve ficar claro os dias e horários das sessões, a necessidade do cumprimento do horário, o valor dos honorários e a forma de pagamento. O Pp deve evidenciar os elementos da causa do sintoma para que ao final da investigação possa assegurar ao psicopedagogo uma conclusão – devolução ou informe diagnóstico – na qual conterá a causa ou causas que levam o sujeito à apresentar os sintomas analisados e o tratamento adequado para o caso. 

No segundo momento o sujeito poderá ser submetido ao tratamento que varia de acordo com a origem do problema. Assim sendo é possível que se torne necessário apenas a intervenção psicopedagógica, como também a intervenção de outros profissionais, a exemplo de psicólogos, de fonoaudiólogos, e demais especialistas. Uma outra possibilidade é unir o acompanhamento psicopedagógico a um desses profissionais ou a mais de um. É importante ressaltar que em alguns casos os pais e ou a família também devem passar por algum processo terapêutico. Ainda sobre a queixa, após analisá-la, segue-se com a formulação de hipóteses denominadas essenciais. Assim o Pp faz algumas suposições da causa do problema para poder traçar um plano investigativo o mais apurado possível que possibilite anunciar com segurança o diagnóstico clínico. 

Escuta de uma queixa (Transcrição): 

Pp: Bom dia! Sente-se por favor. 

Mãe: Obrigada! 

Pp: Srª Socorro, o que lhe trouxe aqui? 

Mãe: Veja bem Drª, meu filho... tem problemas sérios para estudar, não gosta de ir à escola, não faz as atividades e tem tirado notas muito baixas. A professora me pediu para que eu tomasse uma providência, porque a escola não pode fazer nada por ele. Foi aí que conversando com uma amiga, ela me disse que o filho da amiga dela estava sendo atendido pela senhora. 

Pp: Qual o nome do seu filho? 

Mãe: Pedro. 

Pp: Quantos anos de idade ele tem? 

Mãe: 11 anos. 

Pp: Que série e qual o turno que estuda? 

Mãe: Ele está na 5ª série pela manhã na Escola X. 

Pp: Srª Socorro, o trabalho que nós desenvolvemos aqui é realizado em dois momentos. No primeiro fazemos o diagnóstico, ou seja, uma investigação para descobrir a causa que leva Pedro a apresentar os problemas relatados pela senhora. Esta investigação se constitui em pelo 15 sessões com 50’ cada, as quais são divididas entre Pedro, a família, a coordenação da escola, a professora, outro profissional que já esteja acompanhando Pedro, e em alguns casos, quando é necessário, solicitamos o parecer de outro profissional. 
Após esta investigação chegaremos a uma conclusão sobre as causas e do problema, além dos devidos encaminhamentos, é o que chamamos de processo interventor. 


As sessões diagnósticas são realizadas duas vezes por semana, caso a senhora queria que Pedro seja submetido aos trabalhos, então poderá estar marcando um horário com Patrícia, a mesma pessoa que agendou sua visita para hoje. 
Alguma dúvida Srª Socorro? 

Mãe: Foram muitas informações, mas acho que entendi tudo, minha amiga já tinha me falado mais ou menos como era. E o pagamento? 


Pp: Você pode tratar com Patrícia também. 

Mãe: Ah! Vou ver com ela, e falar com o pai de Pedro, não sei se ele vai assumir... 
Pp: Obrigada Srª Socorro tenha um bom dia. 
(Ver contrato)



A queixa: 

Pedro tem 11 anos, está cursando a 5ª do Ensino Fundamental, estuda no turno matutino em uma escola da rede particular da cidade do Salvador. A mãe do menino apresentou a seguinte queixa: Pedro não gosta de ir à escola, não faz as atividades e tem tirado notas baixas; a professora solicitou que a mãe do aluno tomasse providências, pois a escola nada poderia fazer. Após esta escuta levantamos às seguintes hipóteses: 

- é possível que Pedro tenha déficit de conteúdos; 

- é provável que a escola tenha uma metodologia incompatível com o aprendizado do aluno em questão; 

- Pedro pode não ter bons vínculos com a professora e com a escola; - é possível que o sujeito tenha déficit cognitivo. 


Fonte:

Juliana Laranjeira Pereira – Psicopedagoga Clínica e Institucional, mestranda em Gestão Escolar. Professora Substituta da Universidade Estadual de Feira de Santana – Ba. 

Correspondência – Av. ACM, 2501 – Sl. 106 – Profissional Center, Brotas, CEP:41.800-700 – Salvador – BA – Brasil Tel: (71) 9132-9853 E-mail: juliana.laranjeira@ig.com.br 

Bibliografia: 

BUARQUE, Aurélio. Novo Dicionário de Holanda Ferreira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975. WEISS, Maria Lúcia L. Psicopedagogia Clínica: uma visão diagnóstica dos problemas e aprendizagem escolar. 8ª Edição. Rio de Janeiro: DP&A, 2001




Primeira Sessão Pp

O que fazer na 1ª Sessão Psicopedagógica?

Sessão Pp, o que é?

Sessão, significa reunião ou intervalo de tempo que dura uma atividade específica. Em psicopedagogia a sessão é vista como um processo de investigação e observação, onde deve-se a partir de diversos recursos ser montado um grande quebra-cabeças para compreensão da queixa apresentada.

Na primeira sessão o psicopedagogo organiza os dados necessários para compreender o problema de aprendizagem, o significado do problema e sua causa.

Durante as sessões com o psicopedagogo, os recursos como jogos, livros e computador, tem a finalidade de descobrir os estilos de aprendizagem do paciente: ritmos, hábitos adquiridos, motivações, ansiedades, defesas e conflitos em relação ao aprender.

Mas, a pergunta frequente é: O que fazer na primeira sessão?

Na maioria dos casos, o processo diagnóstico psicopedagógico (1ª sessão) inicia-se por uma entrevista com os pais ou responsáveis. Também é frequente que o profissional atenda os pais e o individuo a ser acompanhado. Nesse caso, além de uma breve entrevista com os responsáveis, deverá acontecer um breve diálogo com o(a) suposto (a) paciente/aprendente.

A primeira sessão deverá ser baseada na queixa apresentada. Vejamos algum procedimentos utilizados na primeira sessão por psicopedagogos de todo Brasil:

1ª Possibilidade:

ACOLHIDA: CONVERSA (APRESENTAÇÃO) – Nome, profissão, horário e material.
CAIXA LÚDICA/AEOCA – Avaliar a leitura e raciocínio quando indagar sobre o jogo, quando ler a capa, os nomes…
TRABALHO PSICOMOTOR CORPORAL/EQUILÍBRIO: Jogos e Brincadeiras relacionadas a queixa apresentada.
ENCERRAMENTO: Fazer uma retrospectiva da sessão

2ª Possibilidade:

Iniciar com a utilização da Caixa Lúdica, momento de criar vínculos positivos entre o Pp e o atendente.
Link: Orientação Caixa Lúdica e E.O.C.A

3ª Possibilidade:

Iniciar com E.O.C.A e Roteiro de Observação.
Link:EOCA/PROCEDIMENTOS_DURANTE_TESTE_DE_PSICOPEDAGOGIA
FOLHA EOCA
E.O.C.A
ROTEIRO DA EOCA
Explicacões EOCA

4ª Possibilidade:

Entrevista Familiar Exploratória Situacional

5ª Possibilidade:

Entrevista com o Sujeito.

6ª Possibilidade:

AVALIAÇÃO PSICOLINGUÍSTICA
Link: Avaliação Psicolinguistica

Como podemos perceber existem várias possibilidades para iniciar a primeira sessão psicopedagógica, tudo vai depender da queixa apresentada e dos recursos disponíveis para o mesmo.

Mas o que realmente não pode faltar na primeira sessão é organização. Cadastrar e guardar os dados dos pacientes/aprendentes é a primeira coisa a ser feita em uma sessão. Antes de organizar qualquer material saiba que o cadastro e registro das sessões é de fundamental importância.