quinta-feira, 21 de novembro de 2019

A construção do conhecimento da leitura e da escrita segundo Emília Ferreiro


Emília Ferreiro é uma das maiores influências brasileiras para educadores e toda comunidade escolar quando se trata de níveis de alfabetização.

Segundo Emília, a construção do conhecimento da leitura e da escrita tem uma lógica individual, embora aberta à interação social, na escola ou fora dela.
No processo, a criança passa por etapas, com avanços e recuos, até se apossar do código linguístico e dominá-lo.
De acordo com a teoria da Psicogênese da língua e da escrita, toda criança passa por quatro fases até que esteja alfabetizada. São elas:
PRÉ-SILÁBICO

Neste primeiro nível, a criança começa perceber que a escrita representa aquilo que é falado. Ela tenta se aventurar pela escrita e por meio da reprodução de rabiscos e desenhos. Ainda não consegue relacionar as letras, com os sons da língua falada.

SILÁBICO

Nesse nível a criança começa a perceber a correspondência entre as letras daquilo que é falado. Interpreta a letra a sua maneira, atribuindo valor de sílaba a cada uma, cada sílaba representa uma letra.

SILÁBICO-ALFABÉTICO

Começa a compreender que as sílabas possuem mais que uma letra (fará a transição de ora utilizar uma letra para cada sílaba, ora reconhecer os demais fonemas das palavras e passar a empregá-los). Mistura a lógica da fase anterior com a identificação de algumas sílabas;

ALFABÉTICO

Última hipótese relacionada a alfabetização. Já consegue reproduzir adequadamente todos os fonemas de uma palavra, caracterizando a escrita convencional. Domina, enfim, o valor das letras e sílabas.




quinta-feira, 6 de junho de 2019

A criança e a alfabetização construtivista




Para explicar melhor o funcionamento do método de alfabetização construtivista e de como a criança aprende por meio deles, elencamos abaixo algumas das suas principais características. Veja só!


O educador como mediador


É fundamental que o educador, dentro da metodologia construtivista de alfabetização, tenha conhecimento sobre as diferentes etapas de aquisição de leitura e escrita — níveis pré-silábico, silábico, silábico-alfabético e alfabético.

Uma vez que o conhecimento novo se desenvolve a partir de um conhecimento anterior, é muito importante que o ritmo do aluno seja respeitado. Isso significa que o educador deve estar preparado para reconhecer e identificar a etapa na qual seu aluno se encontra, pois isso determinará os novos estímulos e indicará qual deve ser o próximo passo a ser alcançado por seu aluno no processo de alfabetização.

Assim, quando a criança escreve uma palavra sem atentar para as normas, sem se adequar aos padrões formais da escrita, esse fenômeno não deve ser avaliado como mero erro de ortografia a ser descartado ou repreendido. Pelo contrário, o olhar atento do educador construtivista sabe que o “erro” pode justamente evidenciar as hipóteses da criança para a representação dos sons na escrita. Em outras palavras, aprende-se com o erro na medida em que este aponta para a etapa da alfabetização na qual o aluno se encontra e serve de orientação para o tipo de atividade de que ele necessita para progredir.


O aprendizado pela prática

Como a experiência é um ponto muito importante para o construtivismo, os alunos devem ser incentivados a ler e a escrever com bastante frequência — mesmo aquilo que eles provavelmente não saberão escrever.
Se outros métodos incentivam os alunos a ler textos muito simples ou simplificados para fins didáticos, e a escrever textos também muito curtos e bem simples para evitar erros, na alfabetização construtivista os alunos serão incentivados a interagir com textos simples, porém autênticos. A dificuldade ou o erro não serão vistos como obstáculos a contornar, mas como oportunidades para aprender, para se desafiar.
Isso significa que na sua experiência com a leitura e a escrita, o aluno não se depara com barreiras artificiais. Pelo contrário, ele é estimulado a enfrentar a escrita com naturalidade, tendo oportunidade de experimentá-la em sua complexidade e de se desenvolver cognitivamente ao criar, testar e reelaborar suas hipóteses em relação ao funcionamento da língua.

A importância das experiências anteriores

A criança não tem a escola como o único lugar de aprendizagem. Sua casa também é um espaço muito importante de aprendizagem.
O contato da criança com materiais escritos em casa, ainda que não seja determinante para o processo, também enriquece sua experiência e influencia na sua intimidade com a escrita.
Numa turma de alfabetização, cada aluno será portador de uma experiência diferente, podendo avançar e recuar em suas hipóteses até dominar o código linguístico por completo. O contato com o mundo letrado poderá ser mais ou menos intenso, dependendo do exemplo e do estímulo que recebe da família.
Uma criança que habitualmente escuta a leitura de histórias antes de dormir, por exemplo, provavelmente desenvolverá uma relação mais próxima com os textos literários do que outra criança que não tenha vivenciado tal experiência. Além disso, as crianças poderão se deparar com diferentes mídias e gêneros textuais em placas, cartazes, livros, jornais, revistas, quadrinhos, jogos ou internet dentro e fora de casa ou da escola.

A necessidade de acompanhar de perto

Uma vez que cada aluno traz de casa uma bagagem diferente, alguns terão mais intimidade com o texto escrito que outros. Sendo assim, é muito importante que na alfabetização construtivista os alunos tenham o seu desempenho acompanhado individualmente por seus professores.
Tendo em mente as etapas da aquisição de leitura e escrita de que falamos, o professor deve estar sempre atento para proporcionar uma nova atividade ao seu aluno, algo que não o desmotive por não trazer nada de novo, nem o frustre por estar muito além do seu nível de alfabetização.
As crianças, no esforço de se comunicarem, também buscam caminhos diferentes da linguagem escrita. Muitas produzem desenhos que tampouco devem ser ignorados por seus professores. Esses outros modos de significar não necessariamente concorrem com a aprendizagem da escrita. Afinal de contas, na comunicação contemporânea, é bastante comum vermos palavras e imagens aparecerem lado a lado.

A necessidade de se atualizar

A alfabetização e os outros desdobramentos do conceito de construtivismo na educaçãosão alguns dos exemplos de metodologias que surgem como alternativas aos métodos da escola tradicional. A importância de conhecê-los se justifica pelas mudanças dos valores culturais da sociedade e consequentemente das habilidades que hoje acreditamos serem relevantes para o desenvolvimento de nossas crianças.
Afinal, se a sociedade se transforma, não é de espantar que a escola também possa seguir o mesmo caminho, não é? Nesse sentido, faz-se cada vez mais oportuno que os educadores se mantenham informados sobre as discussões em relação à escola e se disponham a permanecer aprendendo e a reciclar a sua metodologia de ensino.
Exemplos transformadores como o da alfabetização construtivista nos mostram como é importante que não apenas os profissionais da educação, mas também os pais que se interessam pela educação dos seus filhos, busquem cursos de capacitação e, dessa maneira, se atualizem.


O que é o método de ensino construtivista?


A base do pensamento construtivista consiste em considerar que há uma construção do conhecimento e, que para que isso aconteça, a educação deverá criar métodos que estimulem essa construção, ou seja, ensinar aprender a aprender.
Essa linha pedagógica entende que o aprendizado se dá em conjunto entre professor e aluno, ou seja, o professor é um mediador do conhecimento que os alunos já têm em busca de novos conhecimentos criando condições para que o aluno vivencie situações e atividades interativas, nas quais ele próprio vai construir os saberes.
Essa filosofia de ensino é inspirada na obra de Jean Piaget (1896-1980), biólogo e psicólogo suíço que se dedicou a pesquisas relacionadas às formas de aquisição de conhecimento.
A discussão principal de seus estudos é a ideia de que o conhecimento é construído por meio das interações entre sujeitos e o meio.
A linha pedagógica construtivista chegou à América Latina através da argentina Emilia Ferreiro que foi aluna do Jean Piaget na Universidade de Genebra.
Ela escreveu o livro “Psicogênese da Língua Escrita”, em parceria com Ana Teberosky no qual defende que a aprendizagem se dá através do todo para as partes e que cada criança aprende em seu tempo.

Características principais de uma escola construtivista

Salas com menos alunos

Como a proposta do ensino construtivista é que o aluno participe ativamente de seu aprendizado, o ideal é trabalhar em salas de aula com menos alunos.
Dessa forma, as experiências e as interações deverão acontecer de maneira a estimular e a facilitar as descobertas e a aprendizagem, além de possibilitar que o professor  tenha condições para  acompanhar de perto cada aluno, entendendo suas necessidades, contribuindo para a sua formação.

Métodos de avaliação diferenciados

Uma das características inovadoras do método construtivista são as maneiras de avaliação.
As escolas construtivistas não elaboram testes e provas para verificar se o aluno absorveu o conteúdo ensinado, tendo em vista que, como os professores estão acompanhando a aprendizagem do aluno continuamente, os testes não são necessários.
No entanto, as escolas aplicam as avaliações diagnósticas, que são instrumentos para que professor entenda as especificidades de interferência e atue para que haja melhor aproveitamento dos seus alunos sobre o que estão aprendendo.

Menor interferência do professor

O professor é entendido como um mediador e motivador das interações entre os alunos e entre eles e o meio. O educador busca criar situações que estimulem a construção do aprendizado.
Além disso, ele entende que cada aluno possui seu processo próprio de aquisição de conhecimento e, por isso, propõe várias formas de aprender um determinado conteúdo.

Sala organizada em círculos

A ideia de que o professor não é um detentor de conhecimento a ser transmitido aos alunos também reflete na organização da sala.
Em vez de um professor na frente e no centro da sala, com mesas e cadeiras viradas para ele, uma sala construtivista é organizada em círculos, o que favorece a interação e a participação dos alunos.
É importante destacar que nas escolas que seguem essa metodologia, há uma maior interação com outros ambientes, bem como com outras turmas.

Qual o papel da família no ensino construtivista?

Um dos objetivos do método construtivista é proporcionar autonomia e senso crítico nos indivíduos.
Sendo assim, as famílias precisam entender que o ensino construtivista vai fazer ainda mais sentido se a educação dentro de casa não for tão diferente do que acontece nas escolas.
Por exemplo, exigir que a criança aprenda de maneira descontextualizada os números, só irá fazer com que ela fique insegura.
É preciso conhecer e ser presente na escola dos filhos para que possam ficar seguros sobre a educação escolar bem como, sobre a educação familiar.
Para aproximar a escola da família, as instituições que adotam essa metodologia de ensino são preocupadas com a participação delas e, além de terem seus espaços abertos para a participação, criam ações que buscam aproximar a família de maneira efetiva para que ambos possam contribuir com a formação dos jovens.

quinta-feira, 23 de maio de 2019

O método Paulo Freire


O Método Paulo Freire consiste numa proposta para a alfabetização de adultos desenvolvida pelo educador Paulo Freire, que criticava o sistema tradicional, o qual utilizava a cartilha como ferramenta central da didática para o ensino da leitura e da escrita. As cartilhas ensinavam pelo método da repetição de palavras soltas ou de frases criadas de forma forçosa, que comumente se denomina como linguagem de cartilha, por exemplo Eva viu a uva, o boi baba, a ave voa, dentre outros. O Método vai além da alfabetização, propõe e estimula a inserção do adulto iletrado no seu contexto social e político, na sua realidade, promovendo o despertar para a cidadania plena e transformação social. É a leitura da palavra, proporcionando a leitura do mundo. Suas ideias nasceram no contexto do Nordeste brasileiro a partir da década de 1950, onde metade dos seus 30 milhões de habitantes eram analfabetos, com predomínio do colonialismo e todas as vivências impostas por uma realidade de opressão, imposição, limitações e muitas necessidades.

Freire aplicou, pela primeira vez, publicamente, o seu método no “Centro de Cultura Dona Olegarinha”, um Círculo de Cultura do Movimento de Cultura Popular do Recife (MCP) para discussão dos problemas cotidianos na comunidade de “Poço da Panela”. Dos 5 alunos, três aprenderam a ler e escrever em 30 horas, outros 2 abandonaram o “curso”.

O método de alfabetização de Paulo Freire é resultado de muitos anos de trabalho e reflexões de Freire no campo da educação, sobretudo na de adultos em regiões proletárias e subproletárias, urbanas e rurais, de Pernambuco.


No processo de aprendizado, o alfabetizando ou a alfabetizanda é estimulado(a) a articular sílabas, formando palavras, extraídas da sua realidade, do seu cotidiano e das suas vivências. Nesse sentido, vai além das normas metodológicas e lingüísticas, na medida em que propõe aos homens e mulheres alfabetizandos que se apropriem da escrita e da palavra para se politizarem, tendo uma visão de totalidade da linguagem e do mundo. O método Paulo Freire estimula a alfabetização/educação dos adultos mediante a discussão de suas experiências de vida entre si, os participantes da mesma experiência, através de tema/palavras gerador(as) da realidade dos alunos, que é decodificada para a aquisição da palavra escrita e da compreensão do mundo. As experiências acontecem nos Círculos de Cultura.

O método Paulo Freire não visa apenas tornar mais rápido e acessível o aprendizado, mas pretende habilitar o aluno a "ler o mundo", na expressão famosa do educador. "Trata-se de aprender a ler a realidade (conhecê-la) para em seguida poder reescrever essa realidade (transformá-la)", dizia Freire. A alfabetização é, para o educador, um modo de os desfavorecidos romperem o que chamou de "cultura do silêncio" e transformar a realidade, "como sujeitos da própria história".

Etapas do método:


  1. Etapa de Investigação: busca conjunta entre professor e aluno das palavras e temas mais significativos da vida do aluno, dentro de seu universo vocabular e da comunidade onde ele vive.
  2. Etapa de Tematização: momento da tomada de consciência do mundo, através da análise dos significados sociais dos temas e palavras.
  3. Etapa de Problematização: etapa em que o professor desafia e inspira o aluno a superar a visão mágica e acrítica do mundo, para uma postura conscientizada.

O método

  • As palavras geradoras: o processo proposto por Paulo Freire inicia-se pelo levantamento do universo vocabular dos alunos. Através de conversas informais, o educador observa os vocábulos mais usados pelos alunos e a comunidade, e assim seleciona as palavras que servirão de base para as lições. A quantidade de palavras geradoras pode variar entre 18 a 23 palavras, aproximadamente. Depois de composto o universo das palavras geradoras, apresenta-se elas em cartazes com imagens. Então, nos círculos de cultura inicia-se uma discussão para significá-las na realidade daquela turma.
  • A silabação: uma vez identificadas, cada palavra geradora passa a ser estudada através da divisão silábica, semelhantemente ao método tradicional. Cada sílaba se desdobra em sua respectiva família silábica, com a mudança da vogal. (i.e., BA-BE-BI-BO-BU)
  • As palavras novas: o passo seguinte é a formação de palavras novas. Usando as famílias silábicas agora conhecidas, o grupo forma palavras novas.
  • A conscientização: um ponto fundamental do método é a discussão sobre os diversos temas surgidos a partir das palavras geradoras. Para Paulo Freire, alfabetizar não pode se restringir aos processos de codificação e decodificação. Dessa forma, o objetivo da alfabetização de adultos é promover a conscientização acerca dos problemas cotidianos, a compreensão do mundo e o conhecimento da realidade social.
“Estudar não é um ato de consumir idéias, mas de criá-las e recriá-las.” 
FREIRE P.. (1982) Ação cultural para a liberdade e outros escritos. Rio de Janeiro: Paz e Terra (6ª edição), pp. 09-12.

As fases de aplicação do método

Freire propõe a aplicação de seu método nas cinco fases seguintes:
  • 1ª fase: Levantamento do universo vocabular do grupo. Nessa fase ocorrem as interações de aproximação e conhecimento mútuo, bem como a anotação das palavras da linguagem dos membros do grupo, respeitando seu linguajar típico.
  • 2ª fase: Escolha das palavras selecionadas, seguindo os critérios de riqueza fonéticadificuldades fonéticas - numa seqüência gradativa das mais simples para as mais complexas, do comprometimento pragmático da palavra na realidade social, cultural, política do grupo e/ou sua comunidade.
  • 3ª fase: Criação de situações existenciais características do grupo. Trata-se de situações inseridas na realidade local, que devem ser discutidas com o intuito de abrir perspectivas para a análise crítica consciente de problemas locais, regionais e nacionais.
  • 4ª fase: Criação das fichas-roteiro que funcionam como roteiro para os debates, as quais deverão servir como subsídios, sem no entanto seguir uma prescrição rígida.
  • 5ª fase: Criação de fichas de palavras para a decomposição das famílias fonéticas correspondentes às palavras geradoras.
Baseado na experiência de Angicos, onde em 45 dias alfabetizaram-se 300 trabalhadores, João Goulart, presidente na época, chamou Paulo Freire para organizar uma Campanha Nacional de Alfabetização. Essa campanha tinha como objetivo alfabetizar 2 milhões de pessoas, em 20.000 círculos de cultura, e já contava com a participação da comunidade - só no estado da Guanabara (Rio de Janeiro) se inscreveram 6.000 pessoas. Mas com o Golpe de 64 toda essa mobilização social foi reprimida, Paulo Freire foi considerado subversivo, foi preso e depois exilado. Assim, esse projeto foi abortado. Em seu lugar surgiu o MOBRAL, uma iniciativa para a alfabetização, porém, distinta dos ideais freirianos.
“É mais do que um método que alfabetiza, é uma ampla e profunda compreensão da educação que tem como cerne de suas preocupações a natureza política.”
(in:A Voz da Esposa - A Trajetória de Paulo Freire)
 Freire morreu de um ataque cardíaco em 2 de maio de 1997, às 6h53, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, devido a complicações em uma operação de desobstrução de artérias.
Fontes de Pesquisa:

https://fazerpedagogia2.webnode.com.br/pensadores/2/

Método Paulo Freire de alfabetização


Aplicado há mais de 50 anos (1963), o método Paulo Freire de Alfabetização foi testado pela primeira vez na cidade de Angicos, Rio Grande do Norte. O método Paulo Freire estimula a alfabetização dos adultos mediante a discussão de suas experiências de vida entre si, através de palavras ‘geradoras’.
A experiência, inédita no Brasil, tinha uma meta ousada: alfabetizar adultos em 40 dias. Mas não era só isso. Paulo Freire pretendia despertar o ser político que deve ser sujeito de direito. Desafio lançado, Freire teve todo um contato prévio com os participantes, estudando suas realidades, as histórias de vidas e o contexto em que os aprendizes estavam inseridos.

Antes de tudo, é interessante ressaltar que naquela época, o nordeste que possuía aproximadamente 15 milhões de analfabetos (50% da população nordestina na década de 60). A primeira experiência foi realizada com 300 trabalhadores rurais, sem acesso à escola, e que formavam um grande contingente de excluídos da participação social.

“Já naquela época Paulo Freire defendia um conceito de alfabetização para além da decodificação dos códigos linguísticos, ou seja, não basta apenas saber ler e escrever, mas fazer uso social e político desse conhecimento na vida cotidiana”, explica Sonia, que é licenciada em Letras e Pedagogia, com mestrado e doutorado pela Faculdade de Educação da USP e coordenadora do Centro de Referência Paulo Freire (CRPF), entidade mantida pelo Instituto Paulo Freire.
O Patrono da Educação Brasileira desenvolveu um método de alfabetização baseado nas experiências de vida das pessoas. Em vez de buscar a alfabetização por meio de cartilhas e ensinar, por exemplo, “o boi baba” e “vovó viu a uva”, ele trabalhava as chamadas “palavras geradoras” a partir da realidade do cidadão. Por exemplo, um trabalhador de fábrica podia aprender “tijolo”, “cimento”, um agricultor aprenderia “cana”, “enxada”, “terra”, “colheita” etc. A partir da decodificação fonética dessas palavras, ia se construindo novas palavras e ampliando o repertório.

O método Paulo Freire estimula a alfabetização dos adultos mediante a discussão de suas experiências de vida entre si, através de palavras presentes na realidade dos alunos, que são decodificadas para a aquisição da palavra escrita e da compreensão do mundo.

“A concepção freiriana procura explicitar que não há conhecimento pronto e acabado. Ele está sempre em construção”, explica Sônia, que continua: “Aprendemos ao longo da vida e a partir das experiências anteriores, o que faz cair por terra a tese de que alguém está totalmente pronto para ensinar e alguém está ‘totalmente’ pronto para receber esse conhecimento, como uma transferência bancária. Esse caráter político, libertador, conscientizador é o diferencial da metodologia de Paulo Freire dos demais métodos de alfabetização.”

Antes que você pergunte “Mas e aí, deu certo? Por que não continuamos aplicando o método?“, saiba que Freire foi convidado pelo presidente da época (João Goulart) e pelo Ministro da Educação (Paulo de Tarso Santos), para repensar a alfabetização de adultos em âmbito nacional. Em 1964, estava prevista a instalação de 20 mil círculos de cultura para 2 milhões de analfabetos, porém, devido ao golpe militar que iniciava neste ano, Paulo Freire foi preso e exilado, e infelizmente, teve seu trabalho interrompido.
Independentemente das questões políticas e partidárias, o método elaborado por Freire é muito interessante e de fácil aplicação. E sim, utiliza muitos conceitos andragógicos, os quais defendem muitos educadores que tiveram contato com Paulo Freire, como é o caso de Pierre Furter, colega na Universidade de Genebra durante a década de 70 e que veio posteriormente ao Brasil para estudar e conhecer o método freiriano.
Por curiosidade, saiba também que Paulo Freire voltou para a cidade de Angicos/RN, 30 anos. No dia 28 de agosto de 1993, Freire conversou com ex-alunos e monitores que o apoiaram durante a formação. Foram compartilhadas diversas histórias de pessoas que, inspiradas por Freire, voltaram a estudar, algumas inclusive, contaram que levavam seus filhos ou netos para o encontro com Freire, a fim de também serem alfabetizados. Apesar de aplicado entre jovens, adultos e idosos, o método também pôde ajudar na alfabetização e letramento de crianças.

Como funciona o método?

método Paulo Freire de alfabetização é dividido em três etapas. Na etapa de investigação, aluno e professor buscam, no universo vocabular do aluno e da sociedade onde ele vive, as palavras e temas centrais de sua biografia. Na segunda etapa, a de tematização, eles codificam e decodificam esses temas, buscando o seu significado social, tomando assim consciência do mundo vivido. E no final, a etapa de problematização, aluno e professor buscam superar uma primeira visão mágica por uma visão crítica do mundo, partindo para a transformação do contexto vivido.
No método freiriano, segundo Moacir Gadotti, aprendiz de Freire e diretor do Instituto Paulo Freire, se decorria de um “processo de substituição de elementos reais por elementos simbólicos”, com a utilização de cartazes, discussões e leitura, “sequência inversa à utilizada para crianças, em que a leitura figura como elemento instrumental de construção e enriquecimento dos círculos de representação mentais”.
Gadotti ainda diz: “No pensamento de Paulo Freire, tanto os alunos quanto os professores são transformados em pesquisadores críticos. Os alunos não são uma lata vazia para ser enchida pelo professor.” Isso é incrível e faz todo o sentido, seja na pedagogia, na hebegogia ou na andragogia. Não podemos esperar que nossos alunos cheguem em sala de aula sem sentimentos, experiências, histórias, motivações pessoais, preconceitos, etc.

O reconhecimento

Freire ganhou 41 títulos de doutor honoris causa de universidades como Harvard, Cambridge e Oxford, morreu em maio de 1997, e em 2012 foi declarado patrono da educação brasileira. Recebeu também o Prêmio de Educação para a Paz da UNESCO, em 1986; está incluído no International Adult and Continuing Education Hall of Fame e no Reading Hall of Fame; além de diversos outros reconhecimentos. Muitas fontes afirmam que é o 3º autor mais citado nos artigos acadêmicos em todo o mundo.
“O legado que ele nos deixa, entre tantas contribuições, é de esperança”, destaca Sônia, que finaliza: “(…) um legado de entender a educação como espaço de transformação social, que nos ajuda não só a ler a história, mas sermos também escritores da história.”
Caso queira saber mais sobre o método Paulo Freire de alfabetização e teorias de outros educadores de adultos, sugiro o curso de Andragogia:

Para referenciar o artigo, utilizar:
– Beck, C. (2016). Método Paulo Freire de alfabetização. Andragogia Brasil. Disponível em: https://andragogiabrasil.com.br/metodo-paulo-freire-de-alfabetizacao/



terça-feira, 14 de maio de 2019

Teoria de Aprendizagem de Vygotsky

Para Vygotsky, o professor é figura essencial do saber por representar um elo intermediário entre o aluno e o conhecimento disponível no ambiente

Papel do professor na aprendizagem


Estudioso do processo de aprendizagem, Vygotsky defende que ela é resultante da atividade de cada pessoa e da reflexão que ela consegue fazer a partir daquilo. Ou seja, cada aluno é um agente ativo nesse processo.
Dessa forma, o papel do professor consiste em guiá-lo enquanto fornece as ferramentas adequadas para que seu desenvolvimento cognitivo ocorra da forma mais apropriada. Assim, a função do profissional é conduzir o indivíduo até a aquisição do conhecimento.
Estruturas mentais

Para educar, o professor deve entender as estruturas mentais e seus mecanismos. No contexto educacional, os conceitos da teoria de aprendizagem de Vygotsky percebem a escola como o local onde a intervenção pedagógica é intencional e é isso o que promove o processo de ensino-aprendizagem.
Para o estudioso, a aquisição do conhecimento ocorre por mediação, convivência, partilha e assim por diante até que diversas estruturas sejam internalizadas. Um de seus principais conceitos é a zona de desenvolvimento proximal (ZDP), que destaca o papel do outro — em especial o do professor.

A ZDP, segundo seu criador, é a distância entre o desenvolvimento real de uma criança e o que ela ainda tem o potencial de aprender. Esse potencial é demonstrado pela capacidade de desenvolver uma competência com a ajuda de um adulto.
O profissional interfere de forma objetiva, intencional e direta na ZDP. O aluno é aquele que aprende os valores, a linguagem e o conhecimento que seu grupo social produz a partir da interação com o outro — no caso, o professor.
Segundo Vygotsky, o aprendizado não se subordina totalmente ao desenvolvimento das estruturas intelectuais: um aspecto se alimenta do outro. Por isso, o ensino deve se antecipar àquilo que a criança ainda não sabe e nem é capaz de aprender sozinha. Para ele, na relação entre aprendizado e desenvolvimento, o primeiro vem antes.
Mediação da aprendizagem


Nesse cenário, um dos recursos mais úteis é o trabalho de pares. Afinal, a ZDP é o caminho entre o que a criança consegue fazer sozinha e o que ela está perto de conseguir fazer sozinha.
O professor deve ser capaz de identificar essas duas capacidades e, a partir disso, determinar qual deve ser o percurso de cada aluno entre elas. Por isso, a relação entre professor e estudante deve ser de cooperação, respeito e crescimento, não de imposição.
A criança deve ser considerada ativa no processo de construção de conhecimento. O educador é o suporte para que a aprendizagem seja satisfatória. O educador deve, então, interferir na ZDP do estudante com metodologia.
Para Vygotsky, isso ocorre pela linguagem — pelo diálogo entre professor e aluno. Esse conceito é essencial na adaptação na educação infantil e o papel do professor é fazer com que a criança se sinta estimulada.

Principais definições da Teoria de Aprendizagem de Vygotsky

Segundo o estudioso, o desenvolvimento da linguagem implica o desenvolvimento do pensamento, já que é pelas palavras que o pensamento ganha existência.
Para ele, a linguagem tem duas funções básicas: intercâmbio social e pensamento generalizante. O intercâmbio social é bem visível em bebês, por exemplo: por meio de gestos, expressões e sons, eles demonstram sentimentos, desejos e necessidades.
O pensamento generalizante ocorre quando se fala uma palavra: ao dizer, por exemplo, frango, o pensamento classifica a palavra em “animais” e remete à imagem dele.
Assim, as funções psicológicas superiores, ou seja, as ações e os pensamentos inteligentes que só são encontrados no homem (como pensar, refletir, organizar, categorizar, generalizar e outros), são construídas ao longo de sua história social.

Os pilares da teoria de aprendizagem de Vygotsky são:
  • as funções psicológicas têm suporte biológico, pois são produtos da atividade cerebral. O cérebro é um sistema aberto, com estruturas que são moldadas ao longo da história do homem e de seu desenvolvimento individual;
Algumas áreas do cérebro humano envolvidas no processamento da linguagem: Área de Broca (Azul), Área de Wernicke (Verde), Giro supramarginal (Amarelo), Giro angular (Laranja), Córtex auditivo primário (Rosa).
  • o funcionamento psicológico tem como base as relações sociais dentro de um contexto histórico;
  • a cultura é parte essencial do processo de construção da natureza humana;
  • a relação entre o homem e o mundo é mediada por sistemas simbólicos, que auxiliam a atividade humana.

Conceitos de aprendizagem

As observações de Vygotsky foram obtidas a partir de um estudo com primatas. Ao avaliar os animais, o teórico percebeu que existe uma inteligência prática em ação, já que eles conseguem atingir um nível em que podem resolver problemas ao seu redor com o uso de instrumentos.
A partir disso, ele formulou alguns conceitos.

Linguagem e pensamento

A fase da resolução de problemas no entorno foi chamada pelo psicólogo de “linguagem pré-intelectual”. Paralelamente, o estudioso percebeu que os primatas usam expressões faciais, gritos e urros para se comunicar — algo que chamou de “pensamento pré-verbal”.
Quando analisou crianças, ele notou que elas passam por um processo semelhante. Depois, por volta dos dois anos de idade, a linguagem pré-intelectual e o pensamento pré-verbal se unem e dão origem à linguagem intelectual e ao pensamento verbal.
Nesse momento, seu vocabulário ganha mais consistência, ela passa a questionar o que lhe intriga e sua linguagem e seu pensamento passam a ser internalizados. Isso ocorre em três momentos:
  • fala social (ou exterior): a comunicação engloba elementos do entorno e tem como finalidade apenas a comunicação com adultos;
  • fala egocêntrica: a prioridade não é ser ouvida pelo adulto, mas ela ainda não saber expressar sua fala apenas para si;
  • fala interior: quando atinge a potencialidade da reflexão.

Mediação semiótica

A mediação é um conceito central da teoria de aprendizagem de Vygotsky e representa a intervenção de um elemento intermediário em uma relação. Os mediadores podem ser instrumentos ou signos.
Instrumentos são objetos criados pelo homem para facilitar sua vida e signos são fatores psicológicos que auxiliam nos processos internos. A significação pressupõe a criação e o uso de signos por meio dos quais é possível construir novas conexões cerebrais.
Com isso, a partir dos processos mentais elementares ocorre o desenvolvimento mental superior, que usa a mediação semiótica. Tanto os instrumentos quanto os signos ajudam o homem a agir no mundo.
Assim, quando o indivíduo cria uma lista de supermercado, por exemplo, ele está usando signos. Afinal, trata-se de um suporte psicológico que pode auxiliá-lo, mais tarde, a fazer as compras no mercado.
De acordo com o teórico, quando nasce, a criança interage com o ambiente de forma típica e peculiar. A forma mais elementar de relação do homem com o ambiente tem uma ligação direta de estímulo-resposta. É por isso, por exemplo, que se retira a mão rapidamente ao ter contato com uma superfície quente.
O processo de educação ocorre, então, por meio da mediação semiótica. Ela, por sua vez, atua na construção de processos mentais superiores.
Essa construção de Vygotsky é prolongada e complexa, pois passa por uma série de transformações qualitativas em que um estágio é precondição para o próximo (que é uma ampliação ou uma inovação de um antecedente).

Internalização

Para o estudioso, o ambiente tem papel fundamental no desenvolvimento intelectual da criança. Ou seja, o desenvolvimento ocorre de fora para dentro. Assim, a internalização, que permite absorver o conhecimento vindo do contexto, é fundamental.
As influências sociais, então, em vez de biológicas, são a base da teoria de aprendizagem de Vygotsky. A internalização está diretamente relacionada à repetição: a criança se apropria da fala do outro e a torna sua.
Isso ocorre no processo de socialização, já que, quando se relaciona com o adulto, a criança reconstrói as formas culturais, o pensamento, as significações e os usos das palavras.
Em resumo, todos os dias, em todos os lugares, a criança observa o que as pessoas dizem, como o dizem, o que fazem e por que o fazem. Ela, então, internaliza tudo isso e o transforma em sua propriedade. Para isso, ela recria, dentro de si, as conversações e demais interações observadas.
Esse processo é essencial para o crescimento do funcionalismo psicológico humano. Afinal, ele compreende uma atividade externa que deve ser mudada para tornar-se uma atividade interna: assim, ela começa como interpessoal e se torna intrapessoal.
Dessa forma, quando uma criança está na cozinha, por exemplo, e a mãe lhe diz apenas para não mexer no fogo, ela perde a chance de lhe ensinar algo. Se, ao contrário, disser que, se mexer no fogo ela pode se machucar, a criança pode internalizar esse aprendizado e usá-lo em outras circunstâncias.
Assim, os adultos podem ajudar a ampliar o conhecimento da criança e facilitar sua aprendizagem por meio das interações que têm com ela. Dessa forma, sempre que há algum tipo de troca, há aprendizagem, já que o homem não é um ser passivo.

Zonas de desenvolvimento

Como na teoria de aprendizagem de Vygotsky, o desenvolvimento da criança está diretamente relacionado à sua socialização, ele categorizou esse processo em três níveis.
  1. Zona de desenvolvimento real: refere-se às etapas já alcançadas pela criança e que permitem que ela solucione problemas de forma independente.
  2. Zona de desenvolvimento potencial: é a capacidade que a criança tem de desempenhar tarefas desde que seja ajudada por adultos ou companheiros mais capazes.
  3. Zona de desenvolvimento proximal: é a distância entre as zonas de desenvolvimento real e potencial. Ou seja, é o caminho a ser percorrido até o amadurecimento e a consolidação de funções.
Isso significa que, antes mesmo de frequentar a escola, a criança desenvolve seu potencial a partir das trocas estabelecidas e adquire conhecimento.
Quando vai para o ambiente escolar, ela se familiariza com esse mundo e sai da zona de desenvolvimento real para, com auxílio do professor, atingir seu desenvolvimento potencial.
A noção de desenvolvimento remete a um contínuo de evolução. Assim, é como se o indivíduo caminhasse ao longo do ciclo vital. Essa evolução nem sempre é linear e ocorre nos aspectos afetivo, cognitivo, social e motor. O processo inclui tanto a maturação biológica quanto as interações com o meio.
A cultura ao redor do indivíduo é uma das principais influências nesse processo. Pela interação social, cada pessoa aprende, se desenvolve, cria formas de agir no mundo e amplia os meios de atuar no complexo contexto que a cerca.

Estágios de desenvolvimento

Além de Vygotsky, outro estudioso do desenvolvimento humano, Jean William Fritz Piaget, um biólogo, psicólogo e epistemólogo suíço, concluiu que tanto os organismos vivos podem se adaptar a um novo meio quanto existe uma relação evolutiva entre eles e o ambiente.
Assim, a criança reconstrói ações e ideias quando se relaciona com novas experiências proporcionadas pelo ambiente. Para ele, o conhecimento humano é construído a partir da interação entre o homem e o meio. Para adaptar-se ao ambiente, o indivíduo deve equilibrar uma ação com outras ações.
A base desse processo está na assimilação e na acomodação. De acordo com Piaget, para adquirir pensamento e linguagem, a criança passa por várias fases de desenvolvimento psicológico, do individual para o social.
Assim, sua evolução mental ocorre a partir de suas potencialidades e da sua interação com o meio. O progresso mental acontece de forma lenta e em estágios: sensório-motor, pré-operatório, operatório-concreto e operatório-formal. Entenda melhor sobre eles a seguir!

Estágio sensório-motor

Essa fase inclui, em geral, crianças de 0 a 2 anos e é a etapa da percepção-ação. O pequeno se concentra em sensações e movimentos, já que ocorre o desenvolvimento inicial das coordenações e das relações de ordem entre as ações.
A criança começa, então, a entender o que as sensações significam e como seus movimentos podem levar a alterações no mundo exterior. Isso acontece porque a inteligência é anterior à fala: ou seja, há uma inteligência prévia, sem linguagem, que permite perceber o real.
Nos primeiros meses de vida, o bebê ainda não controla as ações motoras de forma consciente. Com o tempo, ele ganha consciência dos movimentos: perto dos 9 meses, começa a diferenciar os objetos e o próprio corpo.
A partir daí, passa a testar as possibilidades: estica o braço para puxar o móbile, tira e coloca a chupeta na boca e assim por diante. Nessa etapa, a criança ainda tem dificuldades com tudo o que não pode ver, tocar ou sentir.
Ou seja, ela acha que só existe o que está em seu campo sensorial. É por isso que, quando se esconde um brinquedo, por exemplo, ela não o procura: para ela, aquilo deixou de existir.
O mesmo ocorre quando não vê a mãe. Como pensa que ela deixou de existir, é comum que comece a chorar. Conforme recebe estímulos, a criança passa a perceber que nem sempre os objetos que estão fora do alcance da sua visão deixam de existir.
A percepção das três dimensões do espaço e o reconhecimento no espelho vêm após 1 ano de idade. Por volta dos 18 meses, a criança passa a ter a capacidade de representar um significado a partir de um significante. Assim, nesse estágio, o campo da inteligência aplica-se a situações e ações concretas.

Estágio pré-operatório

Engloba as idades de 2 a 7 anos. Esse estágio se inicia com a capacidade do pensamento representativo — ou seja, a criança começa a gerar representações da realidade no próprio pensamento. É uma etapa representada pela capacidade de pensar um objeto por meio de outro.
Tudo isso possibilita o rápido desenvolvimento da fala e as brincadeiras de “faz de conta”. Nessa fase, há um egocentrismo evidente, mas isso faz parte do desenvolvimento cognitivo comum. É por isso que a criança fala sozinha e raramente considera o que foi dito para ela.
Além disso, na cabeça dela, as coisas acontecem por si mesmas: uma bola rola porque tem vontade (não pela ação da física), o sol se põe para que ela vá dormir (não porque o dia acaba). Esse pensamento representativo é o que permite o desenvolvimento do pensamento lógico.
É comum que, nessa fase, a criança se confunda com números e quantidades. A mesma quantidade de bebida em copos de formatos diferentes, por exemplo, a faz crer que se tratam de quantidades distintas. O mesmo ocorre com um biscoito partido ao meio e dois biscoitos: para ela, é a mesma coisa.
Nesse período, ocorre a introdução à moralidade (chega-se ao universo dos valores, das regras, das noções de certo e errado) e à linguagem. Ao serem apresentadas a novas situações, entretanto, ainda não são capazes de julgá-las — e fazem o que têm vontade. É preciso paciência até que sejam capazes de perceber sozinhas.

Estágio operatório-concreto

Ocorre dos 7 aos 12 anos e é marcado pelo início do pensamento lógico concreto. Aqui, a criança começa a manipular mentalmente as representações do que internalizou nos estágios anteriores. Isso só ocorre, porém, com coisas concretas, já que conceitos abstratos ainda não são compreensíveis para ela.
Nessa fase, ela já compreende que dois copos diferentes podem ter a mesma quantidade de suco e que duas metades de um biscoito não são equivalentes a dois biscoitos.
Outra noção mais bem desenvolvida é a da moral: as regras fazem mais sentido e, em situações simples, a criança já consegue julgar o que é correto.

Estágio operatório-formal

Após os 12 anos, já na pré-adolescência, a criança passa a ter um modo de pensar adulto e é capaz de assimilar hipóteses e conceitos abstratos. Ou seja, ela já faz representações abstratas e operações com conceitos que não têm formas físicas, como os da matemática.
Além disso, ela passa a compreender experiências vivenciadas por outras pessoas. Esse processo começa no estágio anterior, para objetos concretos, e nessa fase leva a criança a entender o ponto de vista dos outros. A linguagem, então, é usada como suporte do pensamento conceitual.
Em resumo, segundo a teoria de aprendizagem de Vygotsky, a criança nasce inserida em um meio social (sua família) e nele estabelece suas primeiras relações com a linguagem a partir da interação com os outros. No dia a dia, isso acontece espontaneamente durante o processo de uso da linguagem.
Afinal, segundo ele, o homem se produz na e pela linguagem. Essa relação é mediada por instrumentos e signos. É justamente a partir deles que o pensamento e a linguagem se associam para permitir o desenvolvimento no sentido funcional.
As práticas pedagógicas devem, então, trabalhar no sentido de esclarecer a importância da fala no processo de interação com o outro. Isso é especialmente importante na educação infantil, já que é o momento inicial do contato da criança com o mundo externo, fora do ambiente familiar.