quinta-feira, 25 de maio de 2023

O que é o funcionalismo na psicologia

 



A escola do funcionalismo é considerada a combinação da ciência, da preocupação pelo prático, da ênfase no indivíduo e da teoria da evolução. Ela tem seu início no final do século XIX.

O início formal do funcionalismo começou com a publicação do livro Princípios de Psicologia, de James. Essa escola é anterior ao estruturalismo de Titchener e evolui paralelamente a esta, no entanto, obtém muito mais seguidores e acaba por desbancá-la.

O funcionalismo considera a consciência das pessoas como uma corrente que muda constantemente. Ela tem as características de ser pessoal (reflete as experiências particulares de cada um) e contínua (não pode ser dividida para sua análise).

Os autores dessa corrente, pelo interesse particular que têm em conhecer a razão dos processos mentais, começam a se preocupar com a motivação. Ou seja, se preocupam em conhecer aquilo que nos leva a agir para satisfazer nossas necessidades.

Características do funcionalismo em psicologia

A psicologia funcionalista possuía diversos temas de interesse:

  • Se opôs ao que considerava a busca inútil de elementos da consciência.
  • Pretendem conhecer a função da mente em vez de proporcionar uma descrição estática dela. Consideram que os processos mentais têm como função ajudar o organismo a se adaptar ao ambiente.
  • Consideram a psicologia uma ciência prática e procuram aplicar suas descobertas na melhoria da vida.
  • Tem grande interesse na razão dos processos mentais. Pretendem conhecer como a vontade de um organismo age de maneira diferente no mesmo ambiente à medida que as necessidades do indivíduo mudam.
  • Consideram a introspecção como uma das muitas ferramentas válidas de pesquisa.
  • Valorizam as diferenças individuais: estão mais interessados no que diferencia os organismos do que no que eles têm em comum.
  • Todos os funcionalistas são influenciados, em maior ou menor grau, por James, que por sua vez foi influenciado pela teoria da evolução de Darwin.

Teoria do funcionalismo na psicologia: princípios


Para os funcionalistas, as suposições relativas à mente derivavam da teoria da evolução e seu objetivo era conhecer o funcionamento da mente e do comportamento na tentativa de ajudar o organismo a se adaptar ao ambiente. Para isso, as ferramentas de pesquisa incluíram tudo que possuía um valor informativo, inclusive a introspecção, o estudo do comportamento animal e o estudo das doenças mentais.

O criador dessa corrente considerava que se uma ideia funcionava, era válida. Ou seja, afirmava que o único critério que deveria ser empregado para julgar uma ideia era a utilidade da mesma. James indicou que, ao empregar o método científico na psicologia, era completamente necessário supor que todo comportamento dos homens estava determinado.

Esse pensamento é conhecido como pragmatismo, onde qualquer crença, comportamento ou pensamento deve ser julgado por suas consequências. Através desse pensamento, delimitou dois tipos diferentes de mentalidades:

  1. Mentalidade terna: caracterizada por serem pessoas otimistas, religiosas e dogmáticas.
  2. Mentalidade difícil: pessoas empiristas, ateus e pessimistas.

No entanto, para ele, o pragmatismo consistia no comprometimento de ambas as mentalidades, em aceitar o melhor de ambas e usá-las da melhor maneira possível, de acordo com as circunstâncias que se apresentam.

O funcionalismo tinha a ideia central de que grande parte do comportamento, tanto animal como a humana, estava governada pelo instinto. E por isso foi proposta a teoria da emoção de James-Lange, uma das principais teorias da emoção, a qual alterava a tradicional afirmação de que a emoção era o resultado da percepção.

Para os autores dessa corrente, primeiro ocorre a percepção de um evento, o que resultará em uma reação corporal e, finalmente, a emoção será experimentada. Em termos de exemplo: se vemos um urso, para James, o processo que realizamos é: primeiro notamos a presença do urso o urso, depois corremos e, finalmente, ficamos assustados.

Essa teoria foi posteriormente criticada pelos behavioristas porque não estava baseada em experimentos controlados, portanto, suas teorias tinham pouco poder preditivo.

Autores do funcionalismo na psicologia

Os principais representantes dessa corrente psicológica são:

  1. William James: considerado como o precursor da psicologia do funcionalismo. Além disso, também foi o promotor do pragmatismo aplicado na psicologia.
  2. Harvey A. Carr: promotor do funcionalismo como uma escola do pensamento na psicologia estadunidense.
  3. James Rowland Angell: foi um dos principais expoentes da psicologia funcional.
  4. John Dewey: sua base funcionalista residia em sua queixa em relação às rígidas distinções que eram usadas para fazer entre sensações, pensamento e atos. Para ele, existia uma diferença entre estímulo e resposta, no entanto, essa deveria ser funcional e não existencial.
Bibliografia:
  1. Cervantes, R. (2016). Aportaciones a la psicología funcionalista. Universidad Vizcaya.
  2. Gonzalez, J. (2015). Historia de la Psicología. Universidad Jaume I.Sos, R. (2015). Historia de la Psicología. Universidad Jaume I.
  • FONTE: https://br.psicologia-online.com/o-que-e-o-funcionalismo-em-psicologia-caracteristicas-teoria-e-autores-357.html



sexta-feira, 12 de maio de 2023

DIFERENÇA entre a PSICANÁLISE, PSICOLOGIA e a PSIQUIATRIA




PSICANÁLISE é um campo CLINICO e de INVESTIGAÇÃO TEÓRICA da PSIQUE HUMANA independente da PSICOLOGIA, que tem origem na Medicina desenvolvido por SIGMUND FREUD, médico que se formou em 1881, trabalhou no Hospital Geral de Viena e teve contato com o neurologista francês Jean Martin Charcot, que lhe mostrou o uso da hipnose.

Ele propôs este MÉTODO para a compreensão e ANÁLISE do HOMEM, COMPREENDIDO enquanto sujeito do INCONSCIENTE, abrangendo 3 áreas: 1 - Um método de investigação do PSIQUISMO e seu funcionamento; 2 - Um sistema TEÓRICO sobre a vivência e o comportamento humano; 3 - Um método de tratamento caracterizado pela aplicação da técnica da Associação Livre. _______________________________________________________ A originalidade do conceito de INCONSCIENTE introduzido por Freud deve-se à proposição de uma REALIDADE PSÍQUICA, característica dos PROCESSOS INCONSCIENTES. Não é possível abordar o INCONSCIENTE diretamente. Só o conhecemos através de suas formações: ATOS FALHOS, SONHOS, CHISTES e sintomas diversos expressos no corpo. PSICANÁLISE refere-se à forma de ANÁLISE baseada nas teorias oriundas do trabalho de Freud é, assim, um termo + específico. _______________________________________________________ Essencialmente é uma TEORIA da PERSONALIDADE e um procedimento de PSICOTERAPIA; a PSICANÁLISE influenciou muitas outras CORRENTES de pensamento e disciplinas das CIÊNCIA HUMANAS, gerando uma base teórica para uma forma de compreensão da ETICA, da MORALIDADE e da CULTURA HUMANA. A essa definição elaborada pelo próprio Freud pode ser acrescentada um tratamento possível das NEUROSES, da PSICOSE e PERVERSÃO, considerando o desenvolvimento dessa técnica. _______________________________________________________ Em linguagem comum, o termo "PSICANÁLISE" é mtas vezes usado como sinônimo de "PSICOTERAPIA" ou mesmo de "PSICOLOGIA". Em linguagem + própria, no entanto, PSICOLOGIA refere-se à ciência que estuda o COMPORTAMENTO e os PROCESSOS MENTAIS e a PSICOTERAPIA ao uso clínico do conhecimento obtido por ela, ou seja, ao trabalho terapêutico baseado no corpo teórico da psicologia como um todo. _______________________________________________________ No início, tinha apenas um único objetivo — o de compreender algo da natureza daquilo que era conhecido como doenças nervosas ‘funcionais’, com vistas a superar a impotência que até então caracterizara seu tratamento médico. _______________________________________________________ Em sua opinião, os neurologistas daquele período haviam sido instruídos a terem um elevado respeito por fatos químico-físicos e patológico-anatômicos e não sabiam o que fazer do FATOR PSÍQUICO e não podiam entendê-lo. Deixavam-no aos filósofos, aos místicos e — aos charlatães; e consideravam não científico ter qualquer coisa a ver com ele. _______________________________________________________ Por outro lado, analisando-se o contexto da época observa-se que sua proposição estabeleceu um diálogo crítico à proposições WILHELM WUNDT (1832 — 1920) da PSICOLOGIA com a ciência que tem como objeto a CONSCIÊNCIA entendida na perspectiva NEUROLÓGICA (da época) ou seja opondo-se aos estados de COMA ALIENAÇÃO MENTAL. _______________________________________________________ O modelo PSICANALÍTICO da MENTE considera que a atividade mental é baseada no papel central do INCONSCIENTE DINÂMICO. _______________________________________________________ O contato com a realidade teórica da PSICANÁLISE põe em evidência uma multiplicidade de abordagens, com diferentes níveis de abstração, conceituações conflitantes e linguagens distintas. Mas isso deve ser entendido em um contexto histórico cultural e em relação às próprias características do MODELO PSICANALÍTICO da MENTE. _______________________________________________________ Ainda segundo o seu criador, a PSICANÁLISE cresceu num campo muitíssimo restrito. Após FREUD, muitos outros PSICANALISTAS contribuíram para o desenvolvimento e importância da psicanálise. Entre alguns, podemos citar MELANIE KLEIN, WINNICOTT, BION, ANDRE GREEN _______________________________________________________ No entanto, a principal virada da psicanálise, que conciliou ao mesmo tempo a inovação e a proposta de um "retorno a Freud" veio com o psicanalista francês JACQUES LACAN. _______________________________________________________ A partir daí outros importantes autores surgiram e convivem em nosso tempo, como: FRANÇOISE DOLTO SERGE ANDRÉ J-D NASIO JACQUES ALAIN MILLER DAVID ZIEMERMAN _______________________________________________________ AVANÇO DIS ESTUDOS: Uma das recentes tendências é a criação da NeuroPsicanálise segundo Soussumi, tendo como antecedentes a fundação do grupo de estudos de NEUROCIÊNCIA e PSICANÁLISE no Instituto de Psicanálise em 1994 com a participação de ARNOLD PFEFER, e o neurocientista da Universidade de Columbia como JAMES SCHWARTZ, que a partir de 1996, fica sobre a coordenação de MARK

quinta-feira, 11 de maio de 2023

Qual é a diferença entre a psicologia social psicológica e a psicologia social sociológica?

 


Qual a diferença entre psicologia social psicológica e psicologia social sociológica?

psicologia social psicológica se limita a explicar as ações do indivíduo a partir dos estímulos que recebe do exterior (os seus sentimentos, comportamentos e pensamentos, por exemplo). Já a psicologia social sociológica estuda os fenômenos que surgem nos diferentes grupos a partir da interação das pessoas com estes.

O que é um psicólogo social?

Psicologia Social estuda a relação do indivíduo com a sociedade. Ela observa comportamentos (ou suas intenções), nos momentos em que estamos cercados de outras pessoas. Uma de suas principais ideologias é que nosso comportamento é diferente quando estamos sozinhos e quando estamos em comunidade.

Onde surgiu a psicologia social sociológica?

A tradição da psicologia social sociológica inicia-se na França com Tarde e Le Bon e foi institucionalizada nos Estados Unidos, consistindo no efetivo modelo de sociologia praticada em seus primeiros anos naquele país. Dessa tradição fazem parte a Escola de Chicago e o Interacionismo Simbólico.

Quais seriam as principais diferenças entre as ciências sociais e a psicologia?

Uma das principais diferenças entre psicologia social e sociologia é que a psicologia estuda o efeito do social sobre o indivíduo, enquanto a sociologia se concentra nos fenômenos coletivos em si mesmos.

Quais são as principais diferenças entre a psicologia social crítica e a psicologia social PSI de base Norte-americana?

Em Psicologia Social Crítica, Guareschi (2004) sustenta que o conceito-chave da Psicologia social seria o conceito de relação. Essa afirmação revela uma contraposição à psicologia social norteamericana, que busca valores universais que regiriam as interações humanas.

Quais são os principais conceitos da psicologia social?

Dessa perspectiva, os principais conceitos são: a percepção social; a comunicação; as atitudes; a mudança de atitudes; o processo de socialização; os grupos sociais e os papéis sociais.

Qual o trabalho do psicólogo social?

psicólogo social atua em penitenciárias, asilos e centros de atendimento a crianças e adolescentes. Além disso, ele é responsável por elaborar programas e pesquisas sobre a saúde mental da população em geral.

Qual é o objetivo de estudo da psicologia social?

[4] “A psicologia social é o estudo científico da interdependência, da interacção e da influência entre as pessoas. A interdependência reflecte o facto de que a maior parte das coisas que uma pessoa deseja não pode ser obtida sem a colaboração de outras pessoas.

Onde surgiu a psicologia social psicológica?

Nasce na segunda metade do Séc XIX, em alguns países da Europa, e um pouco mais tarde nos Estados Unidos e outros países. Para alguns, a Psicologia Social surgiu no ano de 1859, junto com a edição da revista “ Grande Enciclopédia Soviética”, de Steintahl e Lazarus.

Em que país surgiu a psicologia?

psicologia é uma ciência muito nova, com a maioria dos avanços acontecendo nos últimos 150 anos. No entanto, suas origens remontam à Grécia antiga, entre 400 e 500 anos a.C. A ênfase era filosófica, com grandes pensadores como Sócrates influenciando Platão, que por sua vez influenciaram Aristóteles.

Qual a diferença entre ciência social e ciência humana?

As ciências sociais estudam os mais variados aspectos da sociedade e a influência do comportamento humano em uma determinada sociedade. Já as ciências humanas, embora também estudem o ser humano, são mais voltadas aos seus aspectos individuais, como é o caso da psicologia.

Qual é a diferença entre ciências sociais e humanas?

Já as Ciências Sociais estudam os interesses e necessidades dos seres humanos na sociedade. Na prática, o seu foco é o todo, enquanto as Ciências Humanas dão atenção às partes.

O que propõe a nova psicologia social ou psicologia social crítica?

A proposta é a afirmação de uma Psicologia Social Crítica aberta para novos modos de ser e agir, preocupada com os projetos de vida individuais e com a dinâmica dos processos históricos-sociais. Palavras-chave: Teoria, Prática, Práxis, Psicologia social crítica, Emancipação.

O que significa psicologia social crítica?

Psicologia Social Crítica situa o saber psicológico em geral como uma forma de entender, guiar e regular a vida cotidiana, procurando compreender e explicitar quais são os meios pelos quais uma “cultura psicológica” (Parker & Burman, 2008) é difundida e instituída, sendo instalada para além do conhecimento acadêmico …

Fonte:

https://www.vivendobauru.com.br/qual-e-a-diferenca-entre-a-psicologia-social-psicologica-e-a-psicologia-social-sociologica/

A Psicologia Junguiana e o inconsciente coletivo

 

Carl Gustav Jung, psiquiatra que colaborou com Freud em diversos artigos de psicanálise. A teoria Junguiana de Inconsciente Coletivo consiste em uma transmissão de materiais através de ancestrais em nossa mais profunda psique. Vamos entender um pouco mais sobre isso!

Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo

Nós não dominamos tudo o que pensamos, o nosso eu não é capaz de fugir de alguns sentimentos ou pensamento que surgem de repente. Sendo assim, podemos dizer que o inconsciente é algo nosso que não temos conhecimento.

Na Psicologia Junguiana há a distinção de inconscientes, podendo ser ele pessoal ou coletivo.

O que é Inconsciente Pessoal

O Inconsciente Pessoal é a área em que estão nossas memórias esquecidas e nossos pensamentos reprimidos. Esse inconsciente foi estudado por Freud. Ele pode se manifestar em nossos sonhos ou até mesmo como sintomas psíquicos e físicos.

O que é Inconsciente Coletivo

Esse inconsciente ao contrário do pessoal,  não se trata só do que vivenciamos, e sim de tudo que a humanidade teve como experiência. E foi nesse estudo que ele começou a ter divergências com Freud, mas essa também foi sua maior contribuição na psicologia.

Essa teoria aponta que nós nascemos também com uma herança psicológica além da biológica. Ele compara a estrutura do corpo, dos órgãos e suas funções que se evoluem conforme os anos com a humanidade, com a existência também de uma evolução da mente, que traz traços de toda a história, afirmando que não seria possível um organismo todos se modificar e a mente nascer vazia. Assim, nosso corpo e mente são depósitos de histórias do passado.

Os arquétipos Junguianos são  canais de organização de todo o material psicológico que herdamos ao decorrer dos anos. Um dos pontos interessantes dos arquétipos, são as imagens primordiais. Elas são na maioria das vezes de conteúdo mitológico e abordam assuntos de culturas tão longínquas que temos certeza de nunca termos escutado, mas de alguma forma ela existe em sua mente e surgem de repente, geralmente em sonhos.

Jung reparou esse ponto em suas viagens experimentais pelo mundo, onde viu que as pessoas tinham sonhos com características de mitos e religiões que eles não conheciam, mas ao lembrar deles, eles poderiam os descrever detalhadamente, mesmo sem o conhecimento do que aquilo se tratava. Ou seja, algo lhe foi passado inconscientemente de décadas passadas e estava armazenado em sua mente, seu inconsciente.

Um exemplo do inconsciente coletivo é o que se entende por pai. O peso dessa palavra vai muito além do que o que se vivencia com o pai, progenitor. Esse arquétipo paterno é a imagem de todos os tipos de pais que nutrem sua mente, ele pode ter relação com a religião por exemplo, como Deus, ou o Sol e nem sempre estará ligado a algo bom, pode ser um pai severo, punidor, coisas que não fizeram parte da sua própria vivência mas você consegue atribuir a essa única palavra.

Esse material que você possui no inconsciente coletivo, ele não pode ser destruído, mesmo que a imagem passe a fazer parte de seu consciente, ele estará lá entrelaçado nessa área para continuar fazendo parte da cadeia evolutiva. Assim afirma Jung:

“OS CONTEÚDOS DE UM ARQUÉTIPO PODEM SER INTEGRADOS NA CONSCIÊNCIA, MAS ELES PRÓPRIOS NÃO TEM ESTA CAPACIDADE. PORTANTO, OS ARQUÉTIPOS NÃO PODEM SER DESTRUÍDOS ATRAVÉS DA INTEGRAÇÃO OU DA RECUSA EM ADMITIR A ENTRADA DE SEUS CONTEÚDOS NA CONSCIÊNCIA. ELES PERMANECEM UMA FONTE À CANALIZAÇÃO DAS ENERGIAS PSÍQUICAS DURANTE A VIDA INTEIRA E PRECISAM SER CONTINUAMENTE TRABALHADOS” (JUNG, 1951, P.20).

Os principais arquétipos da estrutura da personalidade segundo Jung:

A Persona: é a forma que nos apresentamos para a sociedade. Ela possui diversos aspectos negativos, ela pode esconder quem realmente você é por conta de esteriótipos. Mas por outro lado ela te protege de atitudes sociais externas que procuram de alguma forma te derrubar. Também é muito importante para a comunicação.

Anima e Animus: é um arquétipo do inconsciente da parte sexual, sendo Anima para os homens e Animus para as mulheres. Ele é o principal regulador de comportamento, ele filtra o que é feminino e masculino e alimenta seu animus ou anima assim definindo suas características pessoais.

Self: O self é o consciente e inconsciente se completando para formar uma totalidade.

“O SELF DESIGNA A PERSONALIDADE TOTAL. A PERSONALIDADE TOTAL DO HOMEM É INDESCRITÍVEL… PORQUE SEU INCONSCIENTE NÃO PODE SER DESCRITO.” (JUNG EM EVANS, 1964, P. 62).

Ego: ele é o arquétipo da personalidade, o centro de nossa consciência. Não é traços de inconsciência no ego, somente a consciência e aprendizado de tudo que foi vivido.

Sombra: é aquela voz que “escutamos” quando refletimos, ela é tudo o que a consciência descartou por não fazer parte de sua persona ou não se encaixar no que é sociavelmente aceitável.

inconsciente coletivo, fruto do estudo de Jung é uma explicação para conhecimentos que temos mas não sabemos explicar de onde eles foram extraídos, mas na verdade eles são provenientes de uma sabedoria coletiva que foi transmitido para nós através da evolução humana e estavam armazenados em nosso mais profundo eu, nos acompanhando desde nosso nascimento.

Fonte:

https://www.telavita.com.br/blog/psicologia-junguiana/


Psicologia das massas: Freud e o comportamento de multidões

 


por Sigmund Freud

“A massa é extraordinariamente influenciável e crédula, é acrítica, o improvável não existe para ela.

Pensa em imagens que evocam umas às outras associativamente, como no indivíduo em estado de livre devaneio, e que não têm sua coincidência com a realidade medida por uma instância razoável.

Escondidos no
anônimo: “um
germe de
antipatia se
 torna um ódio
 selvagem.”

Os sentimentos da massa são sempre muito simples e muito exaltados. Ela não conhece dúvida nem incerteza. Ela vai prontamente a extremos; a suspeita exteriorizada se transforma de imediato em certeza indiscutível, um germe de antipatia se torna um ódio selvagem.

Quem quiser influir sobre ela, não necessita medir logicamente os argumentos; deve pintar com imagens mais fortes, exagerar e sempre repetir a mesma fala. 

Como a massa não tem dúvidas quanto ao que é verdadeiro ou falso, e tem consciência da sua enorme força, ela é, ao mesmo tempo, intolerante e crente na autoridade.

Ela respeita a força, e deixa-se influenciar apenas moderadamente pela bondade, que para ela é uma espécie de fraqueza.

O que exige de seus heróis é fortaleza, até mesmo violência. Quer ser dominada e oprimida, quer temer os seus senhores. No fundo, inteiramente conservadora, tem profunda aversão a todos os progressos e inovações, e ilimitada reverência pela tradição”.

 

(trecho de “Psicologia das massas e análise do eu”, de Sigmund Freud, 1921).

Do cartunista Aroeira:




Fonte:
http://fepesp.org.br/artigo/psicologia-das-massas-freud-e-o-comportamento-de-multidoes/#:~:text=por%20Sigmund%20Freud,medida%20por%20uma%20inst%C3%A2ncia%20razo%C3%A1vel.


Teoria das representações sociais

 

A teoria das representações sociais foi elaborada por Serge Moscovici
com o intuito de explicar e compreender a realidade social,
considerando a dimensão histórico-crítica (OLIVEIRA, 2001).

O conceito de representação social

O conceito de Representação Social se estabelece no limite entre a psicologia e a sociologia, especialmente entre a psicologia e a sociologia do conhecimento.

Este teve início com Durkheim, com o conceito da teoria da Representação Coletiva, no qual procurava dar conta de fenômenos como religião, mitos, ciência, categorias de tempo e espaço em termos de conhecimento inerente à sociedade. Moscovici (1978), por sua vez, afasta-se da perspectiva sociológica de Durkheim quando considera as representações como algo compartilhado de modo heterogêneo pelos diferentes grupos sociais, assim retorna o conceito de Representação Social para a Psicologia Social.

Quem foi Serge Moscovici?

Serge Moscovici nasceu em 1928, é um psicólogo social. Atualmente, é diretor do Laboratoire Européen de Psychologie Sociale (Laboratório Europeu da Psicologia Social), que ele cofundou em 1975, em Paris. É também membro do European Academy of Sciences and Arts, da Légion d’honneur e do Russian Academy of Sciences.

Foi na obra La Psychanalyse, son image et son public, de 1961, que o autor mencionou pela primeira vez o conceito de Representação Social, desenvolvendo a partir deste uma psicossociologia do conhecimento.

Desta forma, o conhecimento é adquirido por meio da compreensão alcançada por indivíduos que pensam, porém, não sozinhos, pois a semelhança dos pronunciamentos feitos pelos indivíduos de um grupo demonstra que pensaram juntos sobre os mesmo assuntos.

As representações sociais na visão de Moscovici

Para Moscovici (1978), as Representações Sociais são entidades quase tangíveis. Elas circulam, cruzam-se e cristalizam-se incessantemente, por intermédio de uma fala, um gesto, um encontro em nosso universo cotidiano, constituindo, assim, uma modalidade de conhecimento particular que tem por função a elaboração de comportamentos e a comunicação entre os indivíduos.

A Representação Social produzida na construção do cotidiano de cada indivíduo, a teoria das Representações Sociais, tenta entender as lutas, batalhas, espaços, formas de comunicação desses indivíduos e o que eles produzem de saberes no e pelo cotidiano.

A representação social é algo que vai muito além de formulações de conceitos acerca de determinado fato, mas produções de comportamentos embasados em experiências sociais, de forma individual e coletiva; conjunto de conceitos construídos diante de um fenômeno social.

A teoria das Representações Sociais é uma teoria sobre a construção dos saberes sociais (JOVCHELOVITCH, DUVEEN, 2001), entretanto, é importante diferenciar saberes sociais de opiniões. Moscovici (1978, p. 46) descreve opinião como sendo algo pouco estável, incidindo sobre pontos particulares. São, portanto, características observadas mais individualmente pelo homem enquanto que representações sociais.

Ou seja, todos os aspectos que envolvem a vida de um sujeito, inclusive o momento histórico-cultural em que o sujeito está inserido são, de certa forma, formadores das Representações Sociais que este formulará a respeito dos fenômenos sociais que fazem parte do seu contexto

A representação de um objeto

Representar um objeto, para Moscovici (1978), é, ao mesmo tempo, conferir-lhe o status de um signo, é conhecê-lo, tornando-o significante, ou seja, tornar familiar o não familiar. Há duas formas de conhecimento que podem explicar os conceitos de familiar e não familiar, sendo estes o de Universo Reificado e o de Universo Consensual.

De acordo com Oliveira e Werba (2001), os Universos Reificados são mundos restritos, onde circulam as ciências, a objetividade ou as teorizações abstratas. Nestes, a sociedade é percebida como um sistema de diferentes papéis e classes, cujos membros são desiguais. Já os Universos Consensuais são as teorias do senso comum, onde se encontram as práticas do dia a dia e a produção de Representações Sociais.

Os formadores de opinião

Consensual a sociedade é vista como um grupo de pessoas que são iguais, cada uma com possibilidades de falar em nome do grupo. Este, de acordo com Moscovici (1981), estimula e dá forma à nossa consciência coletiva, explicando coisas e eventos de tal forma que sejam acessíveis a cada um do Universo Reificado das ciências e deve ser transferido ao Universo consensual do dia a dia para, assim, ser representado.

O processo de formadores de opinião

Existem dois processos formadores das Representações Sociais, sendo estes o processo de ancoragem e o processo de objetificação. Estes dois processos servem para familiarizar o desconhecido.

Além disso, ancorar também significa classificar e rotular, pois implica, muitas vezes, em um juízo de valor pois, ao ancorarmos, classificamos pessoas, ideias e objetos, situando-os dentro de uma categoria, procurando, assim, um lugar para encaixar o não familiar.

Oliveira e Werba (2001) citam como exemplo de ancoragem o problema da Aids que, quando surgiu, diante da dificuldade de entendê-la e classificá-la, foi ancorada pelo senso comum como uma “peste”, ou seja, a “peste gay”, a qual só aconteceria com estes. Esta foi a forma encontrada para encaixar, de alguma forma, o não familiar, dando conta da ameaça que a Aids trazia.

O segundo processo de formação das representações acontece com a objetificação, ou seja, uma transformação do abstrato em algo quase físico, traduzindo algo que existe no pensamento em algo que existe na natureza. Segundo Moscovici (1981, p. 64), “objetificar significa descobrir o aspecto icônico de uma ideia ou ser mal-definido, isto é, fazer equivaler o conceito com a imagem”.

Desta forma, procura-se, por meio da objetificação tornar concreta, visível uma realidade, aliando conceito com imagem, ou seja, a objetificação é a imagem que acompanha a ancoragem, que é conceito.

A teoria das representações sociais é um importante método de estudo, pois “[…] tem a capacidade de descrever, mostrar uma realidade, um fenômeno que existe, do qual muitas vezes não nos damos conta, mas que possui grande poder mobilizador e explicativo” (JACQUES, 2001, p. 31).

A Representação Social mostra-se como um conjunto de proposições, reações e avaliações que dizem respeito a determinados pontos, emitidas aqui e ali, no decurso de uma pesquisa de opinião ou de uma conversação pelo “coro” coletivo de que cada um faz parte, queira ou não.

Esse “coro” é a opinião pública, sendo que esta recebe seu significado a partir de uma situação multi-individual, em que os indivíduos se expressam, ou são chamados a se expressar, a favor ou contra alguma condição específica, alguma pessoa ou proposta de importância geral, em tal proporção de número, intensidade e constância, que isso dê origem à probabilidade de afetar, direta ou indiretamente, a ação em direção ao objeto referido, diferenciando-se, assim, das Representações Sociais, as quais têm a ver com as dimensões de construção e de mudança, ausentes na opinião pública (GUARESCHI, 1996).

O papel da opinião pública

Assim, a RS tem relação com a opinião pública. Porém, a Representação Social não é mera opinião, vai além dela, pois está relacionada à avaliação do objeto, aos sentimentos associados a ele e isso enquanto característica produzida e compartilhada por um grupo. Entretanto, as proposições, reações ou avaliações estão organizadas de maneira muito diversa segundo as classes, as culturas ou grupos, e constituem tantos universos de opinião quantas classes, culturas ou grupos existentes (MOSCOVICI, 1978).

Segundo o autor, estas proposições, reações e avaliações estão organizadas de acordo com a cultura e a formação social de cada grupo e, a partir disto, lança a ideia de que cada contexto social está dividido em três dimensões: a atitude, a informação e o campo de representações ou a imagem.

A informação é a organização dos conhecimentos que o grupo possui a respeito de determinado objeto social. Ou seja, dependendo do nível de conhecimento do grupo, as informações a respeito do objeto serão mais precisas, e sua representação pode diferir de um grupo com pouca, nenhuma informação, ou com informações diferentes (MOSCOVICI, 1978).

No que se refere ao campo de representações, Moscovici (1978) considera-o a imagem que o grupo social constrói do objeto, o modelo social referente aos aspectos da representação do objeto.

A atitude, segundo o autor, é a tomada de posição diante do objeto, ser favorável ou não, aceitar ou rejeitar, ou então ser intermediário, ou seja, o meio termo entre os dois extremos.

A importância da psicologia social

A psicologia social trabalha com as representações sociais no âmbito do seu campo, do seu objeto de estudo – a relação indivíduo-sociedade – e de um interesse pela cognição, embora não situado no paradigma clássico da psicologia: ela reflete sobre como os indivíduos, os grupos, os sujeitos sociais constroem seu conhecimento a partir da sua inscrição social, cultural, etc., por um lado e, por outro, como a sociedade se dá a conhecer e constrói esse conhecimento com os indivíduos. Logo, como interagem sujeitos e sociedade para organizar a realidade, como terminam por construí-la numa estreita parceria que passa pela comunicação (ARRUDA, 2007).


Fonte:

https://blog.portaleducacao.com.br/teoria-das-representacoes-sociais/

LUCIEN LÉVY-BRUHL: A MENTALIDADE PRIMITIVA



Lucien Lévy-Bruhl (1857-1939)

«É por isso que a mentalidade dos primitivos tanto pode ser pré-lógica como mística. Temos aí antes dois aspectos de uma mesma propriedade fundamental do que dois aspectos distintos. Essa mentalidade será chamada mística se se considerar mais especialmente o conteúdo das representações; pré-lógica, se se olhar antes para as ligações. Pré-lógica não deve também fazer supor que esta mentalidade constitui uma espécie de estádio inferior, no tempo, ao aparecimento do pensamento lógico. Existiram alguma vez seres humanos ou pré-humanos cujas representações colectivas não tenham obedecido a leis lógicas? Ignoramo-lo. Em todo o caso, é muito pouco verossímil. Pelo menos, a mentalidade das sociedades de tipo inferior, a que chamo pré-lógica à falta de melhor nome, não apresenta de modo algum esse carácter. Não é antilógica; também não é alógica. Chamando-lhe pré-lógica, quero somente dizer que ela não se sujeita, antes de tudo o mais, a abster-se de contradição. Primeiro obedece à lei da participação. Assim orientada, não se compraz gratuitamente no contraditório (o que a tornaria constantemente absurda para nós), mas também não pensa em evitá-lo. Na maioria das vezes, é indiferente ao princípio de contradição. O que significa que é difícil de acompanhar». (Lucien Lévy-Brühl, 1910)


A globalização e a ideologia neoliberal que a molda voltam a colocar na ordem do dia os temas clássicos da Filosofia Primitiva, cuja tarefa é, como vimos noutro texto, estudar as formas de pensamento primitivo na sua relação com o contexto social. 

 Gaston Bouthoul formulou o princípio de que existem estruturas mentais que correspondem estritamente às estruturas sociais, definindo assim a mentalidade do ponto de vista da sociedade: «uma sociedade é essencialmente um grupo de pessoas de mentalidade análoga», e cada uma das mentalidades é «uma condensação interiorizada da vida social». 

Este princípio pode ser lido tanto do ponto de vista da sociologia de Durkheim que destaca mais a integração do que o conflito, como do ponto de vista marxista, cujo conceito de ideologia implica uma sociedade de classes em conflito

Ora, de todas as mentalidades, a mais estudada foi aquela a que Lévy-Bruhl chamou mentalidade primitiva

Nas suas primeiras obras, Lévy-Bruhl atribuiu à mentalidade primitiva duas características básicas: mística, no que se refere ao conteúdo das suas representações, e pré-lógica, no que se refere às ligações entre essas representações. 

Por um lado, a mentalidade primitiva é mística, não no sentido do misticismo religioso, mas no sentido da crença em forças, influências ou ações imperceptíveis aos sentidos e, no entanto, reais: quer dizer que os povos primitivos se movem numa realidade mística, onde todas as coisas possuem poderes ocultos

E, por outro lado, a mentalidade primitiva é pré-lógica, não no sentido de ser anterior no tempo à aparição do pensamento lógico, ou no sentido de ser antilógica ou alógica, mas no sentido de não se sujeitar a abster-se da contradição: quer dizer que a mentalidade das sociedades inferiores obedece menos ao princípio de identidade do que a uma lei de participação, em virtude da qual - nas suas representações colectivas - os objectos, os seres, os fenómenos podem ser simultaneamente eles próprios e outra coisa diferente deles mesmos. 

Assim, por exemplo, os Bororos do Brasil afirmam que são araras. A lei da participação permite aos primitivos explicar as conexões que estabelecem entre o retrato e o seu modelo, a sombra e a pessoa, o nome e a coisa; o costume da couvade; a importância atribuída aos presságios, à adivinhação e aos símbolos; a representação que fazem de si próprios, com o sentimento da existência individual relegado a segundo plano pelo conjunto de pertinências que os ligam ao meio e, especialmente, ao grupo; a ligação entre o próprio grupo e uma porção de território, o seu centro totémico local; enfim, a natureza dos sistemas de classificação e das pré-ligações que estabelecem entre as suas representações. 

O duplo carácter da mentalidade primitiva ajuda Lévy-Bruhl a explicar a concepção de causalidade que a caracteriza: «A causalidade que ela concebe é de um tipo diferente daquele que nos é familiar». 

As sociedades primitivas ignoram as cadeias de causas intermediárias e concebem apenas uma «causalidade mística e imediata», que implica uma representação completamente distinta do tempo e do espaço

Para os primitivos, não há fenómenos naturais, no sentido que damos a este termo. Assim, por exemplo, a morte resulta sempre de práticas de magia, mesmo quando se trata da morte de um homem idoso e doente. Imaginemos a seguinte cena: um búfalo investe contra um homem e mata-o. Segundo Lévy-Bruhl, o homem primitivo prefere a explicação mística à explicação objectiva natural: a morte deste homem será assim explicada pela bruxaria

Haverá aqui uma contradição? Será o homem primitivo indiferente à contradição? Evans-Pritchard considera que não há aqui nenhuma contradição, alegando que os primitivos fazem uma análise mais aguda da situação: «Eles estão perfeitamente cientes de que foi um búfalo que matou o homem, mas sustentam que isto não teria acontecido se não tivesse havido bruxaria. Se não fosse a bruxaria, o homem não teria sido morto pelo búfalo, ou teria sido outro homem que não aquele ou teria sido outro búfalo e outro espaço e outro tempo e não aqueles: por que aconteceria como aconteceu se não fosse a bruxaria? 

Eles estão a perguntar por que - como nós diríamos - duas cadeias causais de eventos independentes se cruzam, levando um determinado homem e um determinado búfalo ao mesmo lugar e no mesmo tempo». 

Nesta perspectiva mais subtil, que Evans-Pritchard (1937) explanou na sua obra Witchcraft, Oracles and Magic among the Azande, as duas explicações - a natural e a mística - são complementares: os primitivos salientam mais a causa mística do que a causa natural, porque ela permite a vingança contra quem enfeitiçou o homem. A subtileza desta análise não deve iludir a incapacidade dos antropólogos para solucionar as questões relativas ao pensamento primitivo.

Lévy-Bruhl estudou - de 1910 a 1938 - o sistema de conhecimentos que correspondem à sociedade primitiva, sem pretender procurar a origem do conhecimento filosófico e do conhecimento científico das sociedades civilizadas. 

O conhecimento perceptivo do mundo exterior, bem como o conhecimento do Eu, do Outro e do Nós, é, entre os povos primitivos, completamente diferente dos nossos conhecimentos. 

Convém deixar bem evidenciado que Lévy-Bruhl era descontinuísta e anti-evolucionista: os povos primitivos vivem num mundo físico e num mundo social que não pode ser comparado ao mundo dos povos civilizados. 

As leis da lógica formal são substituídas - nas sociedades primitivas - pela lei da participação mística. Ora, esta última baseia-se, como demonstrou Lévy-Bruhl em 1931, na categoria afectiva do sobrenatural

As representações colectivas dos primitivos não são puramente intelectuais; são, antes de tudo, «estados complexos em que os elementos emocionais e motores constituem partes integrantes das representações». Um xamã esquimó disse a Knut Rasmussen que o seu grupo não tinha crenças, mas medo do que via em seu redor e das coisas invisíveis que o cercava. 

Lévy-Bruhl utiliza o termo categoria não no sentido aristotélico ou kantiano, mas como princípio de unidade afectiva no espírito que explica desde logo a participação, em virtude da qual o simbolismo - por exemplo - não é simples semelhança, mas consubstancialidade com o ser ou o objecto simbolizado. Mas esta consubstancialidade é, para os primitivos, de ordem afectiva ou emotiva, como se evidencia nas suas cerimónias e danças que realizam, através de uma espécie de comunhão ou de fusão mística com o antepassado mítico ou totémico, uma participação, isto é, uma união afectiva total. 

Em 1935, Lévy-Bruhl explica a mentalidade pré-lógica dos primitivos - a sua indiferença em relação à contradição - pelo facto desta atitude estar ligada à orientação mística do seu espírito e às suas fracas tendências conceptuais: os primitivos formam conceitos, mas estes conceitos, aliás menos numerosos e ricos do que os nossos, não são sistematizados por eles. 

Em 1938, Lévy-Bruhl destaca a importância da participação: «A mentalidade primitiva, misticamente orientada, vê participações em todo o lado. Ignorando o mecanismo das leis da natureza, ainda que, na prática, saiba regular suficientemente bem a sua actividade por este mecanismo, ela concebe, ou sente a maior parte das vezes, as relações mútuas dos seres vivos como participações.

Com mais forte razão, as relações entre os seres do mundo exterior e os do mundo invisível, a interacção constante da natureza e do sobrenatural, também são "sentidas" como participações, mais ou menos claramente representadas. 

É, pois, razoável dizer que estes espíritos, mais ainda do que os nossos, se movem "através de uma floresta de símbolos", segundo a célebre expressão de Baudelaire. Símbolos que lhes são próprios. Não obra do entendimento, como os nossos, mas já existindo, de certo modo, antes de serem apreendidos, nas participações que se objectivam através deles». 

Os símbolos não são expressões, mas principalmente veículos da participação, sendo esta entendida como uma forma de agir e ser agido. Suponho que Victor Turner (1967) encontrou aqui inspiração quando deu o título The Forest of Symbols ao seu estudo sobre o ritual ndembu, um povo africano do noroeste da Zâmbia, antiga Rodésia setentrional, ao sul da África central.


Em 1920, Lévy-Bruhl já tinha renegado expressamente a tese do pré-logismo: «Vi ser-me atribuída uma doutrina, chamada "pré-logismo", segundo a qual haveria duas espécies de espíritos humanos, uns lógicos, como os nossos, e outros, os dos primitivos, pré-lógicos, isto é, destituídos dos princípios directores do pensamento lógico e obedecendo a leis diferentes; e essas duas mentalidades seriam exclusivas uma da outra... 
Não julguei necessário defender-me contra uma refutação que afirmava um absurdo palpável e não dizia realmente respeito aos meus trabalhos». 

Mas é nos Carnets Posthumes (1949) que Lévy-Bruhl abandona de vez a tese do pré-logismo e a própria noção de pensamento pré-lógico: «O que há de mais positivo na minha ideia do carácter pré-lógico provém do carácter místico». Lévy-Bruhl é assim levado a dar especial destaque ao carácter místico do pensamento primitivo: «O essencial de qualquer experiência mística é o sentimento (acompanhado por uma emoção sui generis) da presença e, muitas vezes, da acção de um poder invisível, o sentimento de um contacto, em geral imprevisto, com uma realidade outra que a dada pelo meio ambiente». Ora, segundo Lévy-Bruhl, esta mentalidade mística é «mais acentuada e mais facilmente observável entre os primitivos do que nas nossas sociedades», embora esteja «presente em todo o espírito humano». 

O anti-evolucionismo de Lévy-Bruhl leva-o a afirmar sem rodeios e sem hesitações que «a estrutura lógica do espírito é a mesma em todas as sociedades humanas», o que implica a ideia da unidade do género humano. De certo modo, a oposição entre a experiência - construída ou imediata - dos primitivos e a dos civilizados é aqui substancialmente mitigada: Lévy-Bruhl mostra-se assim sensível à competição de várias formas de conhecimento no mesmo quadro social e à variação das acentuações das formas no seio da mesma estrutura de conhecimento

Os critérios da experiência imediata ou construída são diferentes nestes dois tipos gerais de sociedades, as primitivas e as civilizadas. A experiência dos primitivos admite diferentes graus de misticidade e de racionalidade, o que permite graduar o carácter da sua lógica, de modo a fazer frente à crítica que é dirigida à teoria de Lévy-Bruhl: a de não ter levado em conta as diferenças internas, tanto as nossas como as dos primitivos. 

Além disso, a sua experiência imediata é mais rica do que a nossa: a nossa experiência imediata está muito mais sujeita às coacções das conceptualizações racionais do que a dos primitivos. Até mesmo a personalidade - a individualidade - dos primitivos é, graças às dependências místicas, muito mais forte, mas muito menos diferenciada do que a nossa: o que significa que a pessoa humana não permanece idêntica nas diferentes estruturas sociais, como confirmaram mais tarde Ralph Linton e Abram Kardiner. 

Ao opor a mentalidade primitiva à mentalidade moderna, Lévy-Bruhl procurou mostrar que a primeira é explicada pelo estado de espírito místico: os homens primitivos forjam conceitos, tal como nós, mas - ao contrário de nós - não os usam como instrumentos de um pensamento discursivo: «A discussão de Lévy-Bruhl acerca da lei da participação mística é talvez a mais valiosa e original das partes da sua obra. Ele foi um dos primeiros, se não o primeiro, a salientar que as ideias primitivas, que nos parecem tão estranhas, às vezes chegando mesmo a parecer idiotas, quando consideradas como factos isolados, são plenas de significação, desde que vistas como segmentos de padrões de ideias e de comportamento, tendo cada parte uma relação coerente com as demais partes. 

Ele reconheceu que os valores formam sistemas tão coerentes como as construções lógicas do intelecto e que existe uma lógica de sentimentos assim como existe uma da razão, embora aquela esteja baseada num princípio diferente.

 A sua análise nada tem a ver com as historietas fantasiosas que comentamos anteriormente, porque ele não tenta explicar a magia e a religião primitivas por uma teoria que procura mostrar como teriam elas surgido, ou qual a sua causa e a sua origem. Ele aceita-as como consumadas, e procura apenas mostrar a sua estrutura e o modo pelo qual elas constituem uma prova da existência de uma mentalidade distinta, comum a todas as sociedades de um determinado tipo» (Evans-Pritchard). 

O que hoje podemos dizer é que existem diferentes lógicas correspondendo aos diferentes tipos de sociedades - ou mesmo coexistindo no seio de uma única sociedade. Acho que as críticas feitas à teoria da mentalidade primitiva de Lévy-Bruhl - incluindo a de Marcel Mauss e a de Henri Bergson - foram extremamente injustas. 

Lévy-Bruhl recusou fazer parte da Escola Sociológica de Durkheim, apesar de partilhar com ela a ideia de que a mentalidade do indivíduo deriva das representações colectivas da sua sociedade: ele permaneceu um filósofo, puro e simples, mais interessado pelos sistemas primitivos de pensamento do que pelas instituições sociais primitivas

Para Lévy-Bruhl, podemos começar o estudo da vida social tanto pela análise das maneiras de pensar como pela análise das formas reais de comportamento: a questão da lógica - ou das duas lógicas, a do conceito e a do sentimento - atravessa todos os seus livros, o que despertou a animosidade dos antropólogos ingleses e americanos que, sob influência do fetiche positivista dos estudos empíricos, recusaram precipitadamente a sua teoria da mentalidade primitiva, pré-lógica e mística. 

(Robert H. Lowie ignora-o na sua opus magnum - Primitive Religion, 1952, destacando apenas a teoria do animismo de E. B. Tylor, a teoria da magia de J. G. Frazer e a teoria colectivista de E. Durkheim.) Mas, como vimos, Lévy-Bruhl nunca afirmou que os homens primitivos eram incapazes de pensar coerentemente: eles são inteligentes e pensam de maneira coerente e lógica, mas fazem-no usando categorias diferentes das nossas. O que está em questão na obra de Lévy-Bruhl não é a diferença biológica ou psicológica entre primitivos e civilizados, mas sim a diferença social

O único antropólogo que se atreveu a defender Lévy-Bruhl foi Evans-Pritchard, que, traduzindo-o numa linguagem acessível ao espírito pragmatista anglófono, o confrontou com a teoria dos resíduos e das derivações de Vilfredo Pareto.

Com isto não pretendo poupar a teoria de Lévy-Bruhl a uma reformulação aprofundada, mas simplesmente reconhecer o seu mérito lá onde os seus críticos apontaram as armas: a definição da polaridade

Uma forma diplomática de dizer que a abolição por decreto da mentalidade primitiva resulta do seu regresso a todos os quadros sociais das sociedades modernas: recusa-se a mentalidade primitiva para ocultar o primitivismo do homem moderno, como se todos os homens fossem iguais nas suas capacidades intelectuais. 

Hoje quem queira estudar a mentalidade primitiva não precisa sair da sua própria sociedade e deslocar-se até aos trópicos, porque os primitivos habitam a sua própria sociedade. 

Uma das tarefas prioritárias da Filosofia Primitiva é precisamente pensar este regresso do primitivo que se verifica nas sociedades supostamente mais desenvolvidas do mundo. 

O regresso do primitivo tal como o concebo não se identifica com a redescoberta do sobrenatural exposta por Peter I. Berger: a redescoberta do sobrenatural constitui uma das peças do regresso do primitivo, cujo movimento global reintroduz nos espaços centrais da sociedade civilizada a figura do pensamento mágico.

 Contudo, esta reintrodução do pensamento mágico nos quadros sociais das sociedades modernas implica um fenómeno regressivo, a própria animalização do homem, o que não sucedia nas sociedades primitivas colonizadas pelos europeus - muito mais humanas do que as nossas sociedades. 

Quando isto acontece, a civilização e, sobretudo, a cultura superior, começam a entrar numa fase de colapso. Hoje, no Ocidente, a forma cultural dominante é a mentalidade primitiva que cresce e invade todos os seus tecidos, como se fosse um cancro. Uma sociedade metabolicamente reduzida é necessariamente uma sociedade cancerosa


Obras de Lucien Lévy-Bruhl, nenhuma das quais está traduzida em português, tanto quanto sei - as minhas edições são todas da PUF:


1910As Funções Mentais das Sociedades Inferiores.
1922A Mentalidade Primitiva.
1927A Alma Primitiva.
1931O Sobrenatural e a Natureza na Mentalidade Primitiva.
1935A Mitologia Primitiva.
1938A Experiência Mística e os Símbolos para os Primitivos.
1949Os Cadernos de L. Lévy-Bruhl.  


J Francisco Saraiva de Sousa

Fonte:
http://cyberdemocracia.blogspot.com/2011/09/lucien-levy-bruhl-mentalidade-primitiva.html