quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

OS PSEUDO-INTELECTUAIS DE NOSSO TEMPO

É incrível como nessa sociedade onde vivemos existem pseudo-intelectuais, e nisso incluímos os nazistas gramáticas também obviamente, que são aquelas pessoas que creio eu, sentem um prazer quase que sexual ao corrigir os erros ortográficos de outros indivíduos.



“Olha para mim, eu sou esperto! Eu achei um erro em seu texto! Por favor digam o quão inteligente eu sou!!!”

Enquanto que para um verdadeiro intelectual não é necessário ficar demonstrando pros outros sua inteligência, o pseudo-intelectual é só um retrato medíocre e triste disso, uma sombra.

Um ser carente de atenção, aquela pessoa pedante, que faz alarde de si, para tal ser não basta ele se considerar inteligente e culto, ele quer que os outros lhe digam isso. Ele gosta também gosta de diminuir as outras pessoas ostentando uma cultura que ele na verdade nem sequer possui.

Enquanto um verdadeiro intelectual iria se preocupar com a mensagem do seu texto, e com o propósito dele, sobre o que autor queria que você refletisse e pensasse sobre, um pseudo-intelectual iria vasculhar o seu texto atrás de alguma vírgula no lugar errado, um erro de concordância, uma preposição faltando, só pra poder se exibir dizendo quão ele é academicamente superior a você”.

Enfim, eu acho que essas pessoas prestam um desserviço, principalmente a quem gosta de escrever, ao invés de tentar motivar alguém a expressar suas ideias, a falar sobre o que sente, sobre o que pensa..

O pseudo-intelectual simplesmente procuraria algum erro pra dizer: “Você não es um escritor!”

E não é nem que ele faça uma crítica sincera , com o intuito de ajudar você no seu crescimento acadêmico, ele faz isso simplesmente pra ostentar uma (falsa) superioridade que ele acredita possuir.

Enfim, creio que este é um dos grandes problemas da vida: Sempre vai ter um montão de pessoas pra tentar te colocar pra baixo, ou fazer você se sentir inferior… O segredo é simplesmente ligar a tecla FODA-SE, pra essas pessoas.

FONTE:

https://estranhosidade.wordpress.com/2013/07/17/os-pseudo-intelectuais-de-nosso-tempo/

Significado de Pseudo

 


O que é Pseudo:

Pseudo é um prefixo utilizado na língua portuguesa para indicar um teor falso cujo conteúdo não é real ou verdadeiro.

Comumente, pseudo também é empregado como uma gíria, qualificando algo como duvidoso, mentiroso e que é falso.

De acordo com a gramática, quando o prefixo pseudo estiver ligado à uma palavra iniciada por vogal, “h”, “r” ou “s”, esta deve levar hífen.

Exemplo: 

pseudosociedade, pseudoarte,

pseudorevelação, pseudo-herói.

Pseudo é um termo de origem grega, a partir de pseudes pseûdos, que significa literalmente “mentira” ou “falsidade”.

Exemplos de palavras com o prefixo “pseudo”:

  • Pseudônimo: é um nome falso usado por escritores que não querem se revelar, por exemplo.
  • Pseudociência: uma ciência falsa ou suposta.
  • Pseudodiamante: é uma pedra falsa que imita uma jóia preciosa.
  • Pseudofobia: é o medo mórbido de algo que não causa dor nem moléstia, mas somente desconforto psicológico.
  • Pseudoprofeta: é um falso profeta, ou seja, um indivíduo que engana outras pessoas que são fiéis de uma determinada doutrina ou crença religiosa.

Pseudointelectual

Um indivíduo considerado pseudointelectual é aquele que finge ser dotado com um nível de conhecimento profundo e extenso, mas que na realidade é meramente superficial.

Normalmente, os pseudointelectuais usam vocabulários rebuscados, citam autores clássicos e falam de temas culturais, mas não são verdadeiros entusiastas do assunto.

Pseudomonas

É um gênero de bactéria que pode provocar alguns tipos de infecções, como respiratórias ou urinárias, por exemplo.

A ocorrência de pseudomonas é mais comum em pessoas com diabetes e queimaduras. O tratamento é feito a base de antibióticos fortes, pois os pseudomonas são bactérias bastante resistentes.

FONTE; https://www.significados.com.br/pseudo/

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

A revolução de Aquenáton, o faraó que acabou com 2 mil deuses e instaurou o monoteísmo no Egito

Casado com a famosa rainha Nefertiti, Aquenáton também era conhecido com Amenhotep IV

Desde o início de seu reinado, o faraó Aquenáton e sua mulher Nefertiti decidiram desafiar todo o sistema religioso do Antigo Egito. Dispostos a sacudir as bases de sua sociedade, eles criaram ideias que levariam o império à beira do abismo.

O casal começou a reinar durante os anos dourados da civilização egípcia, por volta de 1.353 a. C., quando o império era o mais rico e poderoso do mundo —as colheitas eram abundantes, a população, bem alimentada, os templos e palácios reais estavam cheios de tesouros e o exército obtia inúmeras vitórias contra todos os inimigos. Todos acreditavam que o sucesso vinha por conseguirem manter os deuses felizes.

Foi então que Aquenáton chegou ao trono com o ímpeto de modificar uma religião de 1,5 mil anos de idade.

Somente o sol

A ideia era revolucionária: pela primeira vez na história, um faraó queria substituir o panteão de deuses egípcios por uma única divindade — o deus Sol, ou Atón, o criador de todos.

A proposta era considerada uma heresia. Mas como o faraó era considerado um deus na terra, tinha poderes ilimitados para modificar o que quisesse. Ele decretou que os 2 mil deuses que eram adorados no Egito havia mais de um milênio estavam extintos. Suas aparências humanas e animalescas foram substituídas pela forma abstrata do Sol e de seus raios.

O sol era o único deus necessário para nova religião

Para os poderosos sacerdores tradicionais, que haviam dedicado suas vidas inteiras aos deuses antigos, a mudança de doutrina era uma catástrofe. Eles praticamente haviam governado o Egito, agora eram dispensáveis — e formavam um grupo perigoso de inimigos para Aquenáton.

No quinto ano de seu reinado, o faraó decidiu que deixaria a cidade de Tebas e se instalaria ao norte do rio Nilo.

Lúxor, à beira do rio Nilo, foi construída sobre as ruínas de Tebas

Rumo ao futuro

Àquela altura, era evidente que Aquenáton queria romper com o passado. Ele deu a Nefertiti igualdade de poderes e o título de Grande Esposa Real. Juntos eles viajam 320 quilômetros e mandaram construir uma cidade no local onde hoje fica o município de Amarna.

Sobre uma rocha que ainda existe nas colinas da região, está escrita uma proclamação pública composta por Aquenáton que explica o motivo que o levou a escolher precisamente aquele lugar. Ele teria sido comandado pelo próprio deus Sol, que o mandava edificar ali.

A comunicação teria sido feita por meio de um sinal: a região é cercada de colinas, e em certas épocas do ano o Sol se põe entre elas, criando a forma do hieróglifo do horizonte. Aquenáton interpretou isso como um sinal.

Sol se pondo entre colinas e formando o símbolo do horizonte

Horizonte de Atón

Millhares de pessoas de Tebas foram trazidas para construir, decorar e administrar a nova capital, que chegou a ter população de 50 mil pessoas.

A cidade tinha poços, árvores e jardins florescendo no meio do deserto. Casas, palácios e templos ao deus único foram criados em tempo recorde.

O local foi batizado de Ajetatón —horizonte de Aton— e se tornou o novo coração político e religioso do império, e o centro de um novo culto.

Não só a capital e a religião mudaram. A revolução iniciada pelo casal real trouxe outras novidades: nos costumes.

Gravuras que retratam a vida íntima da família real eram uma novidade


Pela primeira vez a família real era retratada demonstrando afeto

Gravuras cheias de detalhes encontradas em Amarna mostram momentos íntimos da vida da família real, como Aquenáton e Nefertiti abraçando suas filhas. Até então, nenhuma família real egípcia havia sito retratada em demonstrações de carinho.

São obras espontâneas e cheias de vida se comparadas com a arte egípcia anterior, que tende a ser mais estática e monumental.

As estátuas do faraó que ainda existem possuem as mesmas qualidades. A sua postura, de pé, com os braços cruzados sustentando insígnias reais, é comum. Mas sua fisionomia é completamente diferente da dos soberanos que vieram antes e depois, que costumam ter semblantes fortes e viris.

Não restaram muitas estátuas do faraó

Aquenáton, ao contrário, tem um rosto comprido, com um nariz grande que aponta para sua barba. Seus inusitados lábios carnudos, seus quadris largos e sua barriga um pouco proeminente remetem a uma sensualidade feminina.

Oração ao ar livre

A arquitetura do período também demonstra um desejo de romper com o passado. Os templos tradicionalmente fechados se afunilavam, com o piso levemente levantado e o teto caído, e pouquíssima entrada de luz.

O culto ao Sol trouxe santuários ao ar livre, algo que nunca havia sido feito em grande escala.


Em certo momento, os únicos fiéis autorizados a entrar nos templos eram o faraó e sua mulher. A partir de textos encontrados nos dias de hoje, os estudiosos teorizam que Aquenáton e Nefertiti passaram a acreditar que somente eles podiam se comunicar com Aton. O faraó seria filho de Deus e Nefertiti também seria divina - os súditos deveriam adorá-los. 

Foi o ápice de sua revolução religiosa. 

Queda

No entanto, as coisas começaram a desandar. Os súditos não haviam de fato abandonado a adoração aos outros deuses, então Aquenáton ordenou que todas as imagens dos deuses antigos fossem destruídas, especialmente as do deus maior do panteão, Amon-Rá.

Também mandou seus soldados apagarem a memória de todos os deuses em suas terras. No fim de seu reinado, sua revolução se enfraqueceu - como ele se recusava a sair da nova cidade, era visto como fraco e o império como vunerável a invasões. 

Tábuas de argila encontradas em Amarna
revelam a natureza do problema enfrentado pelo faraó

Tábuas de argila encontradas em Amarna mostram o estado em que se encontrava o império. Uma delas foi enviada pelo governante de um dos países vizinhos protegidos pelo faraó. Ele pedia que o Egito enviasse tropas para ajudá-lo a manter os hititas, inimigos do império, sob controle.

"Já pedi, mas não fui respondido. Não me enviaram a ajuda de que preciso", se queixava o governante. Aquenáton nunca enviou tropas e o Estado vizinho caiu nas mãos dos hititas — o exército estava tão ocupado em missões de perseguição religiosa que o Egito perdeu territórios, poder, posses e status no continente.

Muitas tragédias

Nas paredes do túmulo de Aquenáton está gravado o drama da família.


Mortes na família enfraqueceram Aquenatón ainda mais

Apesar de estar muito danificada, é possível ver uma cena de luto. Umas das princesas morreu e seus pais aparecem chorando - algo sem precedentes, já que as famílias reais jamais demonstravam emoções em público.

Outras evidências indicam que Aquenáton perdeu mais de uma filha, provavelmente por causa da peste, que arrasava a região na época.

Epidemias do tipo podiam matar até 40% da população, e, como era faraó, Aquenáton era considerado pessoalmente responsável pela desgraça. Para os súditos, a catástrofe era resultado de uma ofensa feita aos antigos deuses.

No pico da crise, a rainha Nefertiti morreu e o soberano perdeu a mulher que o havia acompanhado desde o princípio.

Nefertiti era conhecida por sua beleza
e por suas qualidades como governante
 
Paraíso perdido

 

O paraíso de Aquenáton estava à beira do colapso. O Egito estava perdendo sua riqueza e poder.

Treze anos depois da fundação de sua cidade, Aquenáton morreu. Há quem acredite que ele tenha sido assassinado para que seu reinado terminasse.

A cidade foi abandonada e, mais tarde, sistematicamente destruída e apagada dos registros. Também foram esquecidos o culto à Atón e o próprio Aquenáton, que durante muito tempo só foi lembrado por ser, segundo indicam os registros, o pai do grande Tutancâmon, seu sucessor.

Tutancâmon é o mais famoso dos 170 faraós que se estima terem governado o Egito


Foi Tutancâmon quem resgatou os antigos deuses e restaurou o poder e a prosperidade do Egito. Os sacerdotes voltaram a ter seu antigo poder, e a vida voltou à normalidade.

Nenhum outro faraó egípcio voltou a tentar mudar a ordem estabelecida e desafiar a religião tradicional. Os que vieram após Aquenáton se esforçaram por destruir todos os registros de seu culto herege.

Suas estátuas foram derrubadas e as pedras dos templos usadas como material para a construção de novos prédios. As rochas esculpidas foram escondidas que ninguém voltasse a vê-las.

Isso acabou preservando-as para a posteridade: na década de 1920, elas começaram a reaparecer. Muito do que sabemos de Aquenáton e do culto a Atón vem delas.

Ruínas da cidade que foi o sonho de Aquenáton e Nefertiti se encontram
próximas à cidade de Amarna


Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/geral-40602931




 







segunda-feira, 15 de novembro de 2021

(...)

Menos de 10% das pessoas na China se consideram religiosas. Elas possuem muitas crenças e tradições, valorizam a espiritualidade e o cuidado com a alma, mas dificilmente se enquadram em uma religião.

As religiões chinesas mais conhecidas são o budismo e o confucionismo, duas vertentes que derivaram de culturas filosóficas. Mas não são a únicas: é possível encontrar pessoas do islamismo, catolicismo e outras vertentes.

LIBERDADE RELIGIOSA NA CHINA

Em termos oficiais, na China existe liberdade de crença. A realidade, no entanto, é bem diferente. O governo do país está sempre tomando medidas com o objetivo de derrubar religiões no território, principalmente aquelas de origem estrangeira.

Uma das principais religiões da China, forte no ocidente, é o catolicismo. Mas para o governo da China, a única religião que deve prevalecer é o respeito aos governantes.

O presidente é a autoridade suprema da China. Mas não é só isso: deve ser respeitado como um verdadeiro Deus. Por isso o número de crentes na China não para de cair.

As pessoas não podem se manifestar livremente e as igrejas são perseguidas pelo Estado. 

Principais Religiões da China

BUDISMO

Considerada a maior religião da China, o Budismo foi introduzido no país no século I depois de Cristo. Não é uma religiçao tipicamente chinesa, se originou na Ásia central.

O fundador do Budismo é proveniente do Nepal. Trata-se do príncipe Sidarta Gautama, um homem bastante rico, vindo de uma família de posses e grande reinado.

De acordo com a história, Gautama abandonou todo o seu luxo, posses e riquezas para encontrar a verdadeira felicidade, a essência da vida. Depois de várias tentativas frustradas, Gautama decidiu meditar para encontrar a verdade.

Foi quando recebeu a iluminação e se transformou em Buda (que significa “aquele que foi iluminado”), passando a influenciar outras pessoas do seu tempo.

Existem, no entanto, três formas diferentes de Budismo, que seriam facções: tibetano, Han e do Sul. O Budismo da China se tornou tão popular, que agora é conhecido no mundo todo.

Quem vai até a China pode conhecer os inúmeros templos budistas. Eles estão espalhados por todos os cantos e em todas as cidades. Respeitar os espaços sagrados na China é fundamental – sob pena de prisão e multas pesadas.

TAOÍSMO

Diferente do Budismo, o Taoísmo é uma religião originária da China. Surgiu no século II, com base no culto à natureza e aos povos ancestrais. Em termos conceituais, o Taoísmo é visto menos como uma religião e mais como uma doutrina mística e filosófica.

Foi desenvolvida pelo pensador Lao Tse, um dos mais importantes da história da China. As principais características do Taoísmo são: valorização da natureza, crença no poder do universo, em uma existência natural e serena.

De acordo com números recentes, existem na China aproximadamente 25 mil monges praticantes do Taoísmo e 1500 templos.

Assim como o Confucionismo, sobre o qual falaremos a seguir, o Taoísmo não é uma religião, em sua essência, mas sim uma doutrina de viés filosófico. A religiosidade é apenas um dos seus aspectos.

CONFUCIONISMO

O Confucionismo é uma doutrina religiosa e moral, criada pelo pensador Confúcio. Ele viveu no século VI a.C. Para ter uma ideia da força dessa corrente de pensamento, o Confucionismo foi a religião oficial da China por quase dois mil anos.

Entre as principais características dessa religião chinesa está a valorização da família, do pensamento racional e lógico, da humanidade e do respeito aos superiores hierárquicos.

Assim como o Budismo, o Confucionismo é tido como uma das principais religiões da China. Exerce um poder muito grande, não apenas religioso, mas também moral.

Afinal de contas, não se trata propriamente de uma religião, com crenças em céu e inferno, pecado e divindades, mas sim um sistema de normas, de crenças e valores sociais e familiares,

INTERCÂMBIO RELIGIOSO NA CHINA

Assim como muitas das religiões e correntes religiosas chinesas podem ser vistas em outros países, como no Brasil, o oposto também acontece. Com a globalização e a revolução cultural, algumas religiões estão entrando na China.

Claro, é muito mais fácil alguma coisa sair do que entrar na China. Como você viu, eles não estão completamente abertos para novas religiões.

Mas nos dias atuais é possível encontrar, em diversas partes da China, religiões como o islamismo e o catolicismo. São vertentes religiosas bem populares no mundo todo.

O cristianismo é mais presente na parte ocidental, ao passo que o islamismo é forte no Oriente médio.

PARTIDO COMUNISTA DA CHINA

Sim, uma das principais potências capitalistas do mundo é comunista! Existem alguns pesquisadores que afirmam que de comunista a China só tem o nome.

E é justamente o Partido Comunista da China, o único em atividade, que está criando regras mais severas para as igrejas. Por isso o tema religião na China é tão complexo.

Ao mesmo tempo em que existem diversas religiões ativas no país, a liberdade de crença continua sendo reprimida, ainda que por baixo dos panos. As regras são muito severas e as denominações religiosas acabam não encontrando espaço.

Gostou de conhecer um pouco mais sobre as religiões da China? Esse é um país repleto de diferenças culturais, quando comparado aos países do ocidente. Apesar do grande número de religiões, a maioria das pessoas se diz sem religião.

Criou-se o que se chama de ateísmo de Estado, quando o próprio governo estimula as pessoas a não professar nenhuma religião específica. Prevalece na China o respeito ao governo e ao presidente.

Se você conhece algum chinês ou pretende ir para a China, é bom estar por dentro da cultura desse povo. Informação nunca é demais. Agora você está mais informado do que a maioria das pessoas. Aproveite isso.


FONTE: https://yakiobadelivery.com.br/saiba-tudo-sobre-as-religioes-da-china/


sábado, 25 de setembro de 2021

 Paulo Freire (1921-1997)

(...)

O pensamento de Paulo Freire como produto existencial

Por Moacir Gadotti

Paulo Freire nasceu em Recife, em 1921, e conheceu, desde cedo, a pobreza do Nordeste do Brasil, uma amostra dessa extrema pobreza na qual está submersa a nossa América Latina. Desde a adolescência engajou-se na formação de jovens e adultos trabalhadores. Formou-se em Direito, mas não exerceu a profissão, preferindo dedicar-se a projetos de alfabetização. Nos anos 50, quando ainda se pensava na educação de adultos como uma pura reposição dos conteúdos transmitidos às crianças e jovens, Paulo Freire propunha uma pedagogia específica, associando estudo, experiência vivida, trabalho, pedagogia e política.

O pensamento de Paulo Freire – a sua teoria do conhecimento – deve ser entendido no contexto em que surgiu – o Nordeste brasileiro –, onde, no início da década de 1960, metade de seus 30 milhões de habitantes vivia na “cultura do silêncio”, como ele dizia, isto é, eram analfabetos. Era preciso “dar-lhes a palavra” para que “transitassem” para a participação na construção de um Brasil que fosse dono de seu próprio destino e que superasse o colonialismo.

As primeiras experiências do método começaram na cidade de Angicos (RN), em 1963, onde 300 trabalhadores rurais foram alfabetizados em 45 dias. No ano seguinte, Paulo Freire foi convidado pelo Presidente João Goulart e pelo Ministro da Educação, Paulo de Tarso C. Santos, para repensar a alfabetização de adultos em âmbito nacional. Em 1964, estava prevista a instalação de 20 mil círculos de cultura para 2 milhões de analfabetos. O golpe militar, no entanto, interrompeu os trabalhos bem no início e reprimiu toda a mobilização já conquistada.

A partir dessa sua prática, criou o método, que o tornaria conhecido no mundo, fundado no princípio de que o processo educacional deve partir da realidade que cerca o educando. Não basta saber ler que “Eva viu a uva”, diz ele. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho.

Paulo Freire foi exilado pelo golpe militar de 1964, porque a Campanha Nacional de Alfabetização no Governo de João Goulart estava conscientizando imensas massas populares que incomodavam as elites conservadoras brasileiras. Passou 75 dias na prisão acusado de “subversivo e ignorante”.

Depois de passar alguns dias na Bolívia, foi para o Chile, onde viveu de 64 a 69 e pôde participar de importantes reformas, conduzidas pelo governo democrata-cristão Eduardo Frei, recém-eleito com o apoio da Frente de Ação Popular. A reforma agrária implicava o deslocamento dos aparelhos de Estado aos campos para estabelecer uma nova estrutura agrária e fazer funcionar os serviços de saúde, transporte, crédito, infra-estrutura básica, assistência técnica, escolas etc.

O governo do Chile procurava novos profissionais e técnicos para apoiar o processo de mudança, principalmente no setor agrário. Paulo Freire foi convidado para trabalhar na formação desses novos técnicos.

O momento histórico que Paulo Freire viveu no Chile foi fundamental para explicar a consolidação da sua obra, iniciada no Brasil. Essa experiência foi fundamental para a formação do seu pensamento político-pedagógico. No Chile, ele encontrou um espaço político, social e educativo muito dinâmico, rico e desafiante, permitindo-lhe reestudar seu método em outro contexto, avaliá-lo na prática e sistematizá-lo teoricamente.

Os educadores de esquerda apoiaram a filosofia educacional de Paulo Freire, mas ele teve a oposição da direita do PDC (Partido Democrata Cristão) que o acusava, em 1968, de escrever um livro “violentíssimo” contra a Democracia Cristã. Era o livro Pedagogia do oprimido, que só seria publicado em 1970. Este foi um dos motivos que fizeram com que Paulo Freire deixasse o Chile no ano seguinte.

A sociedade brasileira e latino-americana da década de 60 pode ser considerada como o grande laboratório onde se forjou aquilo que ficou conhecido como o “Método Paulo Freire”. A situação de intensa mobilização política desse período teve uma importância fundamental na consolidação do pensamento de Paulo Freire, cujas origens remontam à década de 50.

Depois de passar quase um ano em Harvard, no início de 1970, foi para Genebra, onde completou 16 anos de exílio.

Na década de 70 assessorou vários países da África, recém-libertada da colonização européia, auxiliando-os na implantação de seus sistemas de educação. Esses países procuravam elaborar suas políticas com base no princípio da autodeterminação. Sobre uma dessas experiências foi escrita uma das obras mais importantes de Freire que é Cartas a Guiné-Bissau (1977). Paulo Freire assimilou a cultura africana pelo contato direto com o povo e com seus intelectuais, como Amilcar Cabral e Julius Nyerere. Mais tarde, essa influência é sentida na obra que escreve com Antonio Faundez, um educador chileno, exilado na Suíça, que continua com um trabalho permanente de formação de educadores em vários países da África e América Latina.

Nesse período, vem o contato mais próximo com a obra de Gramsci, Kosik, Habermas e outros filósofos marxistas. Parece-me que o marxismo de Paulo Freire nutre-se nas obras desses autores, especialmente Gramsci. Isso se reflete nos diálogos mantidos com os educadores dos Estados Unidos, na última década, entre eles: Henri Giroux, Donaldo Macedo, Ira Shor, Peter MacLaren e Carlos Alberto Torres.

Paulo Freire retorna aos Estados Unidos já com uma bagagem nova, trazida da África, e discute o Terceiro Mundo no Primeiro Mundo com Myles Horton. O diálogo mantido com Myles Horton, em 1989, no livro We Make the Road by Walking: Conversations on Education and Social Change deve ser considerado exemplar. Esse livro foi escrito com muita paixão, esperança e sabedoria. Ambos foram educadores e ativistas políticos. Myles Horton (1905-1990) foi o fundador do Highlander Center, no sul dos Estados Unidos, um centro de estudos que teve grande importância nas décadas de 50 e 60 na luta pelos direitos civis e na educação de jovens e adultos trabalhadores nos Estados Unidos. A vida e a obra de Horton é muito parecida com a de Paulo Freire. Mesmo tendo percorrido caminhos diferentes, eles se encontraram para discutir suas experiências e idéias, encontrando muita semelhança de idéias e métodos de trabalho.

Paulo Freire voltou pela primeira vez para o Brasil em 1979 – definitivamente em 1980 – com o desejo de “reaprendê-lo”. O contato com a situação concreta da classe trabalhadora brasileira e com o Partido dos Trabalhadores deu um vigor novo ao seu pensamento. Podemos até dividir o pensamento dele em duas fases distintas e complementares: o Paulo Freire latino-americano das décadas de 60-70, autor da Pedagogia do oprimido, e o Paulo Freire cidadão do mundo, das décadas de 80-90, dos livros dialogados, da sua experiência pelo mundo e de sua atuação como administrador público em São Paulo.

Sem deixar de ser latino-americano, na segunda fase, Paulo Freire, tendo a Pedagogia do oprimido por eixo central, dialoga com educadores, sociólogos, filósofos e intelectuais de muitas partes do mundo e “reencontra” a Pedagogia do oprimido em 1992, escrevendo Pedagogia da esperança. Esse “último” Paulo Freire, como o chama Antonio Munclus no livro Pedagogía de la contradicción (1988), é um Paulo Freire internacional e transdisciplinar. O seu pensamento não se limita à teoria educacional, pois penetra em áreas tão distintas quanto as áreas das ciências sociais e das ciências empírico-analíticas. Essa transdisciplinaridade da obra de Paulo Freire está associada à outra dimensão: a sua globalidade. O pensamento de Paulo Freire é um pensamento internacional e internacionalista. Mas Paulo Freire é, antes de mais nada, um educador. E é a partir do ponto de vista do educador que funda sua visão humanista-internacionalista (socialista). Por isso é, ao mesmo tempo, homem do diálogo e do conflito.

Desde então, a obra de Paulo Freire tem sido um divisor de águas em relação à prática político-pedagógica tradicional. A partir daí, e em conjunção com outras teorias críticas, numerosas perspectivas teóricas e práticas foram se desenhando em distintas partes do mundo, impactando muitas áreas do conhecimento.


No seu retorno ao Brasil, temos que realçar a sua atividade acadêmica, dando aulas, ministrando cursos especiais, fazendo conferências e orientando teses, uma atividade que demonstra uma enorme vitalidade e produtividade. Talvez seja esse constante interesse por aprender e participar do mundo, de tudo, que faz com que Paulo encontre tanta energia.

Nos anos 80, ele engajou-se sobretudo na luta pela escola pública de qualidade para todos – a escola pública popular – que culmina na ação que realizou, entre 1989 e 1991, junto à Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. O seu livro A educação na cidade (1991) retrata esse novo Paulo, relendo-se com a prática, com o trabalho, na luta concreta pela transformação de um sistema educacional burocrático e obsoleto, dentro do qual – declara ele na dedicatória desse livro – “mudar é difícil, mas é possível e urgente”.

Não era a primeira vez que Paulo Freire lidava diretamente com o ensino público. Aliás, é bom esclarecer porque ainda existem intérpretes de Freire que pensam que ele ocupou-se apenas da educação popular informal. Ele dedicou um grande período da sua vida trabalhando na assessoria aos sistemas educacionais das ex-colônias portuguesas da África. Um dos primeiros artigos publicados por Paulo Freire é sobre a “escola primária” e o mais antigo trabalho escrito de que temos notícia no Instituto Paulo Freire, datado de 1955, fala de como se deve organizar a participação dos pais na escola, seja pública, seja privada.

A obra de Paulo Freire não é um livro de receitas. Ela se constitui de relatos de práticas profundamente refletidas. Como ele disse certa vez: não leu Marx para aplicá-lo na prática; para a compreensão da prática é que teve que buscar em Marx elementos insubstituíveis.

A universalidade da obra de Paulo Freire decorre dessa aliança teoria-prática. Daí ser um pensamento vigoroso. Paulo Freire não pensa pensamentos. Pensa a realidade e a ação sobre ela. Trabalha teoricamente a partir dela. É metodologicamente um pensamento sempre atual e vem ganhando mais força nos últimos anos pela sua compreensão da política que nunca foi orientada por qualquer cartilha.

Na teoria e na prática, Paulo Freire tem uma visceral incompatibilidade com esquemas, principalmente burocráticos. Tanto sua forma de agir quanto de se expressar refletem uma certa rebeldia em relação a paradigmas rígidos. Seu comportamento não se submete a modelos burocráticos e políticos. Sua linguagem não segue os padrões hegemônicos da academia. Para a expressão linguística que abusa do pedantismo e da erudição com a intenção de ser reconhecida cientificamente, Paulo Freire não faz concessão. Através dele, a poesia conseguiu visto permanente para transitar os textos científicos. Sua linguagem é sempre poética e doce. Isso vem crescendo nos seus últimos escritos. Ao lê-lo ou ao ouvi-lo, um grande contador de histórias se coloca diante de nós. Não há leitor que, diante da linguagem freireana, não quebre sua resistência ao texto acadêmico. Creio ser essa uma característica profundamente ligada às suas origens. Há um sabor nordestino em sua obra. O jeito sereno, cativante e afetivo de se expressar é muito marcante na cultura nordestina, da qual Paulo Freire é filho. Seja pela insubordinação aos esquemas, seja pela sua peculiar forma de se expressar, muitos de seus intérpretes encontram, às vezes, dificuldades para classificá-lo. Alguns não hesitam em categorizá-lo como um pensador anarquista. Mas, no meu entender, pelas razões já explicitadas e pela originalidade de sua pedagogia, embora possa ser situado no contexto da pedagogia contemporânea com referência à essa ou àquela corrente do pensamento, ele continua inclassificável.

Os inúmeros leitores de Paulo Freire buscam em sua obra respostas às mais variadas questões. Por isso, ela pode ser lida de diferentes maneiras, segundo o interesse do leitor. Mas todas elas se encontram numa concepção filosófica e metodológica particular do autor.

Sem enumerar em ordem de importância, vou destacar algumas pistas – apenas as suas principais teses – que indicam possíveis leituras sobre sua filosofia e seu método.

Na constituição, o método pedagógico de Paulo Freire fundamentava-se nas ciências da educação, principalmente a psicologia e a sociologia; teve importância capital a metodologia das ciências sociais. A sua teoria da codificação e da de-codificação das palavras e temas geradores (interdisciplinaridade), caminhou passo a passo com o desenvolvimento da chamada “pesquisa participante”.

O que mais chamou atenção de início foi a fato de que o método Paulo Freire “acelerava” o processo de alfabetização de adultos. Lauro de Oliveira Lima foi um dos primeiros a observar esse processo. Ele observou a aplicação do método nas cidades-satélites de Brasília e escreveu um relatório onde sustenta que Paulo Freire parte de “estudos de caráter sociológico” e se baseia na “teoria das comunicações”. Oliveira Lima percebeu que Paulo Freire não queria aplicar ao adulto analfabeto o mesmo método de alfabetização das crianças. Outros já pensavam assim. Todavia, Paulo Freire foi o primeiro a sitematizar e experimentar um método inteiramente criado para a educação de adultos.

O texto vai das primeiras experiências na alfabetização de adultos,  em 1963, onde 300 trabalhadores rurais foram alfabetizados em 45 dias, na cidade de Angicos (RN), passando pelo exílio provocado pela Ditadura Militar (1964-1985), às décadas de 1980 3 1990, quando Freire, já de volta ao Brasil, se engaja na luta pela escola pública de qualidade para todos (escola pública popular), culminando na sua atuação na Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, entre 1989 e 1991.

Além dos dados mais biográficos, Godotti também aborda a filosofia educacional  e o método freirianos, com destaque para os três momentos do “Método Paulo Freire”, a investigação temática, a tematização e a problematização, e a política libertária do educador, através da conscientização e do diálogo.

De maneira esquemática, podemos dizer que o “Método Paulo Freire” consiste de três momentos dialética e interdisciplinarmente entrelaçados:

a) a investigação temática, pela qual aluno e professor buscam, no universo vocabular do aluno e da sociedade onde ele vive, as palavras e temas centrais de sua biografia;

b) a tematização, pela qual eles codificam e decodificam esses temas; ambos buscam o seu significado social, tomando assim consciência do mundo vivido; e

c) a problematização, na qual eles buscam superar uma primeira visão mágica por uma visão crítica, partindo para a transformação do contexto vivido.

Dada essa interdisciplinaridade, a obra de Paulo Freire pode ser vista tomando-o seja como cientista, seja como educador. Contudo, essas duas dimensões supõem uma outra: Paulo Freire não as separa da política. Paulo Freire deve ser considerado também como político. Esta é a dimensão mais importante da sua obra. Ele não pensa a realidade como um sociólogo que procura apenas entendê-la. Ele busca, nas ciências (sociais e naturais), elementos para, compreendendo mais cientificamente a realidade, poder intervir de forma mais eficaz nela. Por isso ele pensa a educação ao mesmo tempo como ato político, como ato de conhecimento e como ato criador.

Todo o seu pensamento tem uma relação direta com a realidade. Essa é sua marca. Ele não se comprometeu com esquemas burocráticos, sejam os esquemas do poder político, sejam os esquemas do poder acadêmico. Comprometeu-se acima de tudo com uma realidade a ser transformada.

Paulo Freire propõe uma nova concepção da relação pedagógica. Não se trata de conceber a educação apenas como transmissão de conteúdos por parte do educador. Pelo contrário, trata-se de estabelecer um diálogo, isso significa que aquele que educa está aprendendo também. A pedagogia tradicional também afirmava isso, só que em Paulo Freire o educador também aprende do educando da mesma maneira que este aprende dele. Não há ninguém que possa ser considerado definitivamente educado ou definitivamente formado. Cada um, a seu modo, junto com os outros, pode aprender e descobrir novas dimensões e possibilidades da realidade na vida. A educação torna-se um processo de formação mútua e permanente.

No pensamento de Paulo Freire, tanto os alunos quanto o professor são transformados em pesquisadores críticos. Os alunos não são uma lata vazia para ser enchida pelo professor.

Mas Paulo Freire pode ainda ser lido pelo seu gosto pela liberdade. Essa seria uma leitura libertária. Como muitos dos seus intérpretes afirmam, a tese central da sua obra é a tese da liberdade-libertação. A liberdade é o ponto central de sua concepção educativa desde suas primeiras obras. A libertação é o fim da educação. A finalidade da educação é libertar-se da realidade opressiva e da injustiça; tarefa permanente e infindável. Para Paulo Freire a realidade opressiva não é “privilégio” dos países do Terceiro Mundo. Em maior ou menor grau, a opressão e a injustiça existem em todo o mundo. Por isso sua pedagogia não é apenas uma pedagogia “terceiromundista”.

A educação visa à libertação, à transformação radical da realidade, para melhorá-la, para torná-la mais humana, para permitir que os homens e as mulheres sejam reconhecidos como sujeitos da sua história e não como objetos.

A libertação como objetivo da educação é fundada numa visão utópica da sociedade e do papel da educação. A educação deve permitir uma leitura crítica do mundo. O mundo que nos rodeia é um mundo inacabado e isso implica a denúncia da realidade opressiva, da realidade injusta, inacabada e, conseqüentemente, a crítica transformadora, portanto, o anúncio de outra realidade. O anúncio é a necessidade de criar uma nova realidade. Essa nova realidade é a utopia do educador.

Paulo Freire foi chamado certa vez de andarilho da utopia. A utopia estimula a busca: ao denunciar uma certa realidade, a realidade vivida, temos em mente a conquista de uma outra realidade, uma realidade projetada. Esta outra realidade é a utopia. A utopia situa-se no horizonte da experiência vivida. Em Paulo Freire, a realidade projetada (utopia) funciona como um dínamo de seu pensamento agindo diretamente sobre a práxis. Portanto, não há nele uma teoria separada da prática.

Há ainda que mencionar dois elementos fundamentais da sua filosofia educacional: a conscientização e o diálogo. A conscientização não é apenas tomar conhecimento da realidade. A tomada de consciência significa a passagem da imersão na realidade para um distanciamento desta realidade.

A conscientização ultrapassa o nível da tomada de consciência através da análise crítica, isto é, do desvelamento das razões de ser desta situação, para constituir-se em ação transformadora desta realidade.

O diálogo consiste em uma relação horizontal e não vertical entre as pessoas implicadas, entre as pessoas em relação. No seu pensamento, a relação homem-homem, homem-mulher, mulher-mulher e homem-mundo são indissociáveis. Como ele afirma: “ninguém educa ninguém. Ninguém se educa sozinho. Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Nesse processo se valoriza o saber de todos. O saber dos alunos não é negado. Todavia, o educador também não fica limitado ao saber do aluno. O professor tem o dever de ultrapassá-lo. É por isso que ele é professor e sua função não se confunde com a do aluno.

A rigor, não se poderia falar em “Método Paulo Freire”, pois se trata muito mais de uma teoria do conhecimento e de uma filosofia da educação do que de um método de ensino. Mas, para sermos mais precisos, deveríamos chamar a esse “método” de “sistema”, “filosofia” ou “teoria do conhecimento”.

Como diz Linda Bimbi no prefácio à edição italiana da Pedagogia do oprimido (1980): “a originalidade do método Paulo Freire não reside apenas na eficácia dos métodos de alfabetização mas, sobretudo, na novidade de seus conteúdos para conscientizar. A conscientização nasce em um determinado contexto pedagógico e apresenta características originais: a) com as novas técnicas, aprende-se uma nova visão do mundo, a qual comporta uma crítica da situação presente e a relativa busca de superação, cujos caminhos não são impostos, são deixados à capacidade criadora da consciência livre; b) não se conscientiza um indivíduo isolado, mas sim, uma comunidade, quando ela é totalmente solidária a respeito de uma situação-limite comum. Portanto, a matriz do método, que é a educação concebida como um momento do processo global de transformação revolucionária da sociedade, é um desafio a toda situação pré-revolucionária, e sugere a criação de atos pedagógicos humanizantes (e não humanísticos), que se incorporam numa pedagogia da revolução”.

Com isso, Linda Bimbi procura mostrar a estreita ligação existente entre o método educacional de Paulo Freire e o momento de transformação social. O que equivale a dizer que o “Método Paulo Freire” é comprometido com uma mudança total da sociedade.

O método de alfabetização de Paulo Freire nasceu no interior do MCP – Movimento de Cultura Popular – do Recife que, no final da década de 50, criara os chamados círculos de cultura. Segundo o próprio Paulo Freire, os círculos de cultura não tinham uma programação feita a priori. A programação vinha de uma consulta aos grupos que estabeleciam os temas a serem debatidos. Cabia aos educadores tratar a temática que o grupo propunha. Mas era possível acrescentar à sugestão deles outros temas que, na Pedagogia do oprimido, Paulo Freire chamava de “temas de dobradiça” (Essa escola chamada vida, pp. 14-15), isto é, assuntos que se inseriam como fundamentais no corpo inteiro da temática, para melhor esclarecer ou iluminar a temática sugerida pelo grupo popular. Como insistia ele, existe, indiscutivelmente, uma sabedoria popular, um saber popular que se gera na prática social de que o povo participa, mas, às vezes, o que está faltando é uma compreensão mais solidária dos temas que compõem o conjunto desse saber.

Os resultados positivos obtidos com esse trabalho com grupos populares no MCP levaram Paulo Freire a propor a mesma metodologia para a alfabetização. “Se é possível fazer isso, alcançar esse nível de discussão com grupos populares, independentemente de eles serem ou não alfabetizados, por que não fazer o mesmo numa experiência de alfabetização?”, perguntava-se Paulo Freire. “Por que não engajar criticamente os alfabetizandos na montagem de seu sistema de sinais gráficos enquanto sujeitos dessa montagem e não enquanto objetos dela?” (Essa escola chamada vida, pp. 14-15).

Essa intuição foi muito importante no desenvolvimento posterior da obra de Paulo Freire. Ele descobrira que a forma de trabalhar, o processo do ato de aprender, era determinante em relação ao próprio conteúdo da aprendizagem. Não era possível, por exemplo, aprender a ser democrata com métodos autoritários.

A participação do sujeito da aprendizagem no processo de construção do conhecimento não é apenas algo mais democrático, mas demonstrou ser também mais eficaz. Ao contrário da concepção tradicional da escola, que se apoiava em métodos centrados na autoridade do professor, Paulo Freire comprovou que os métodos novos, em que alunos e professores aprendem juntos, são mais eficientes.

GADDOTI, Moacir. O pensamento de Paulo Freire como produto existencial. In: GADDOTI, Moacir (Org.) Paulo Freire: uma biobibliografia. São Paulo: Cortez Editora, 1996, pp. 70-83

FONTE: https://petecaportal.wordpress.com/2017/06/07/portal-de-educacao-tecnologica-e-artistica-publica-adaptacao-da-pedagogia-da-autonomia-de-paulo-freire/

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