quarta-feira, 22 de junho de 2016

Televisão Digital: Interativa ou Reativa?

(...) O que temos percebido (...) é que os programas e serviços interativos oferecidos atualmente por algumas emissoras da TV digital, seguem uma programação pré-definida pela emissora de forma que, apenas podemos caracterizar essa interação como sendo reativa, segundo a perspectiva de análise de Primo (2007), pois mesmo que o interagente possa escolher novos caminhos ou clicar em opções diferentes a cada nova entrada no programa, o resultado será sempre aquele que a emissora pré-estabeleceu para o seu roteiro, sem a possibilidade de modificar, alterar ou propor novos rumos.

(...)A TV digital apresentada como interativa é, na verdade, uma TV digital de interação reativa em que cabe ao interagente tão somente selecionar opções e caminhar por trilhas já pré-estabelecidas. Não é oportunizado a ele fazer seu próprio roteiro ou criar novos rumos. 

(...) A falta de interatividade ou de interação mútua na TV digital hoje, não é causada por limitações técnicas, mas, sim, devido a definições que, em última instância, representam interesses políticos, econômicos e ideológicos por parte das emissoras de TV que não desejam modificar o modelo hegemônico de negócio historicamente consolidado com a televisão analógica.

Essas e outras questões estiveram presentes desde o início do processo de implantação do Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD), instituído no Brasil em 2003 por meio do Decreto 4.901/03, que tinha como um dos seus objetivos “propiciar a criação de rede universal de educação à (sic) distância”. Em função do processo de implantação do SBTVD, grande expectativa foi criada em torno do que poderia ser a televisão digital no Brasil, já que um grande consórcio entre universidades e empresas havia sido formado e essas discussões teóricas e técnicas estavam no centro do debate, gerando uma grande expectativa sobre o futuro nessa área. No entanto, em 2006, de forma não satisfatória, foram estabelecidos os padrões para o SBTVD por meio do Decreto 5.820/06. Esse decreto prevê no seu artigo 13 a possibilidade de implantação de um Canal de Educação voltado “para transmissão destinada ao desenvolvimento e aprimoramento, entre outros, do ensino à (sic) distância de alunos e capacitação de professores”.

Mesmo assim, são grandes as possibilidades tecnológicas da TV digital e, para tal, torna-se importante discutir quais as possibilidades trazidas para a educação pela TV, já que ela potencializa a interatividade liberando o pólo da emissão, por meio do canal de retorno, para que todos possam ser interagentes autônomos e capazes para construir interações mútuas. Para a educação isso é de extrema importância, pois não precisamos de mais uma TV, agora em formato digital, que seja apenas reativa, onde os sujeitos não possam ao mesmo tempo buscar informações e disponibilizar seus saberes e suas culturas. A TV digital possui, potencialmente, as condições tecnológicas que precisamos para construir educações em redes digitais que proporcionem uma interação mútua, problematizadora e em constante transformação.

Fonte: AS NOVAS EDUCAÇÕES E OS POTENCIAIS DA TV E DAS REDES DIGITAIS
Simone de Lucena Ferreira – UNIT
Nelson De Luca Pretto – UFBA
Agência Financiadora: FAPESB





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