sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Eu sou trezentos... Mário de Andrade

Eu sou trezentos... Mário de Andrade

(7-VI-1929)

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinqüenta, As sensações renascem de si mesmas sem repouso, Ôh espelhos, ôh! Pireneus! ôh caiçaras! Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!

Abraço no meu leito as melhores palavras, E os suspiros que dou são violinos alheios; Eu piso a terra como quem descobre a furto Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos!

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinqüenta, Mas um dia afinal eu toparei comigo... Tenhamos paciência, andorinhas curtas, Só o esquecimento é que condensa, E então minha alma servirá de abrigo.


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