segunda-feira, 31 de outubro de 2016

O QUE É UM PARADIGMA E AS METÁFORAS PELAS QUAIS VIVEMOS?

O termo “paradigma” refere-se à estrutura conceptual, sistema de crenças e perspectiva geral através da qual vemos e interpretamos o mundo.

O dicionário define paradigma como “um padrão, exemplo ou modelo”. A palavra deriva do paradeigma grego, composto de para, que significa “ao longo de, ao lado ou além” e deigma, que significa “ao lado do ou além do exemplo”; poderíamos dizer que é aquilo que está ao longo ou “se encaixa” num exemplo – um modelo, portanto. Também poderiamos dizerque é aquilo que está “além da demonstração”, implicando algo de certo modo invisível ou despercebido. Desse modo, paradigma capta um duplo sentido, significando tanto um modelo de alguma coisa (por exemplo, o mundo) como uma estrutura invisível (por exemplo, o sistema de pensamentos dentro do qual visualizamos o mundo).
Nosso paradigma determina o que somos capazes de ver, como pensamos e o que fazemos. Não questionamos sua exatidão, porque geralmente não temos consciência de sua existência. Tentarmos refletir sobre nossa própria visão do mundo é como tentarmos estudar a cor azul enquanto usamos óculos de cor azul. Não conseguimos nos distanciar dela o bastante a ponto de vermos o quanto afeta a nossa percepção. Simplesmente presumimos que a maneira de vermos as coisas é como elas realmente são. Nossos paradigmas geralmente são tudo quanto sabemos e só se tornam perceptíveis para nós quando deparamos com os que são diferentes dos nossos próprios.
Paradigmas Científicos 
O historiador da ciência Thomas Kuhn deu destaque aos paradigmas em seu livro clássico The Structure of Scientific Revolutions (A Estrutura da Revoluções Científicas – Universidade de Chicago, 1962). Descreve como a comunidade científica sustenta os paradigmas: “como uma decisão judicial acatada pelo direito consuetudinário”. Kuhn prossegue em sua explicação:
“Os paradigmas ganham seus ‘status’ porque têm mais sucesso do que seus concorrentes na solução de alguns problemas que a classe profissional passou a reconhecer como críticos. O sucesso de um paradigma…é de início amplamente uma promessa de sucesso que se pode descobrir em exemplos selecionados e ainda incompletos. A ciência normal consiste da realização dessa promessa”.
Segundo Kuhn, um paradigma científico é mais como uma hipótese que a “ciência normal” desenvolve com o acúmulo de cada vez mais dados. Como tais, os cientistas tendem a buscar coerência e evitar novidades. Desprezam com frequência anomalias que desfiam o paradigma existente até que essas anomalias se tornem diruptivas demais para serem ignoradas.
Qualquer paradigma científico ocorre dentro de um contexto cultural que apóia o projeto da ciência. Embora os paradigmas possam existir em muitas escalas – pessoal, familiar, comunitária – eles defluem das nascentes de um paradigma cultural mais profundo que é o contexto dentro do qual existe o nosso entendimento da ciência e da religião.
Metáforas pelas quais vivemos
Nossos pressupostos básicos sobre o universo estão incrustados nas metáforas que utilizamos. A ecofilósofaJoanna Macy examina cinco metáforas centrais através das quais as pessoas de diversas tradições espirituais vêem o mundo: o mundo como campo de batalha, o mundo como sala de aula, o mundo como armadilha, o mundo como amante e o mundo como eu. Acrescentamos a essa lista o mundo como máquina.
O Mundo como Campo de Batalha
“Muita gente vê o mundo como um campo de batalha, onde o bem e o mal se opõem um ao outro e as forças da luz combatem as forças das trevas. Esta antiga tradição remonta aos zoroastristas e maniqueístas (filosofia dualista que divide o mundo entre bem e mal, afirmando que a matéria é intrinsecamente má o o espírito intrinsecamente bom). Visão que procura dar sentido a estar-se combatendo uma batalha divina por Deus ou Alá e que por fim se vencerá. As religiões fundamentalistas divulgam esta crença.
O Mundo como Sala de Aula
“Uma versão mais inócua da imagem do campo de batalha, é a imagem do mundo como sala de aula, uma espécie de ginásio ou academia moral onde se passa por certos testes que provariam o fervor do indivíduo e lhe ensinariam certas lições para poder graduar-se para outros estágios e recompensas. Seja um campo de batalha, seja uma sala de aula, o mundo é um campo de provas, com pouco valor além disso. O que conta são as nossas almas imortais, que aqui estão sendo testadas…Em nome da sua alma, você se dispõe a destruir”. Essas duas visões são fortes entre as religiões monoteístas. Mas, de acordo com Macy, os agnósticos também podem cair presas dessa maneira de pensar quando se tornam militantes ou farisaicos. O fundamentalismo tem tanto adeptos religiosos como seculares.
O Mundo como Armadilha
“Aqui a visão é não se engajar em luta ou derrotar o inimigo, mas nos desenredarmos e escaparmos deste mundo bagunçado. Procuramos nos destrinçar e ascender a um plano mais alto e supra-fenomênico. Esta posição baseia-se numa visão hierárquica da realidade, onde a  mente é vista como superior à matéria e o espírito está assentado acima da natureza. Esta visão encoraja o menosprezo ao plano material” diz Macy. A visão de mundo ocidental baseava-se nesta metáfora, sendo a armadilha a ilusão de que o mundo fenomênico é real. Para conhecer a verdade é preciso aprender diretamente as idéias ou formas platônicas transcendentes e eternas. Essas formas perfeitas são imutáveis, um alívio acolhedor da opressiva torrente e caos do mundo. Elementos desta visão do mundo entraram em todas as principais religiões dos últimos 3.000 anos, independentemente de suas metafísicas. Segundo Macy, “Muitos de nós que seguem uma senda espiritual se deixam levar por esta visão. Querendo afirmar uma realidade transcendente distinta de uma sociedade que parece muito materialista, colocamo-la num nível supra-fenomênico afastado da confusão e do sofrimento. A tranquilidade que as práticas espirituais proporcionam, imaginamos nós, pertence a um lugar afastado do nosso mundo e ao qual podemos ascender, estar a salvos e serenos”. Para aqueles que não se envolveram com buscas espirituais, uma outra versão desta visão do mundo é a idéia de que precisamos nos curar de toda a nossa neurose e limitações emocionais primeiro para depois podermos participar do mundo. Por esta perspectiva, o eu e o mundo são vistos como essencialmente separados, de modo que acreditamos poder curar um sem a cura do outro.
O Mundo como Máquina
Também conhecido como modernidade, o mundo é visualizado como uma coleção de objetos inanimados que interagem de maneira mecanicista previsível baseada em leis matemáticas (principalmente desenvolvidas porIsaac Newton e, portanto, conhecidas como newtonianas, ou física clássica). Introduzida no século 17 por Descartes, Newton, Bacon e outros, a modernidade estabeleceu uma descontinuidade entre mente e a matéria, o subjetivo e o o objetivo e, por fim, entre ciência e religião. Durante séculos de luta entre uma maré alta de empiristas que lutavam contra uma teologia entrincheirada, desenvolveu-se uma trégua incômoda. A ciência reivindicava o domínio do mundo mental.
Numa visão do mundo onde o físico e o mental dividiram lealdades, o que acontece com os intensos impulsos religiosos e espirituais que abordam o papel essencial do significado em nossas vidas? O teórico integral Ken Wilber argumenta que, quando recalcada para o fundo, a carência humana básica de transcendência sai “pelos lados”, por meio das compulsões de acumular posses e afagar o ego.
o Mundo como Amante
Macy diz-nos que com esta visão, “O mundo é olhado como um parceiro mais íntimo e gratificante. No induismo encontramos algumas das mais ricas expressões de nossa relação erótica com o mundo. Aqui o desejo desempenha um papel criativo e manifestador do mundo e sua carga no hinduísmo propulsiona para a adoração de Krishna, onde canções devocionais, ou bhajans, propelem os anseios eróticos do corpo e da alma…Você se senti acolhido pelo jogo primal e erótico da vida. A afirmação erótica do mundo fenomênico não se limta ao hinduísmo. As religiões de antigas deusas, que atualmente são examinadas, também a cultuam, assim como o fazem algumas melodias do sufismo e da cabala, e o cristianismo tem suas tradições de misticismo nupcial”. Poetas românticos do século 19, como Blake, Wordsworth e Shelley sentiram esta afinidade erótica com o mundo, como sentiu Walt Whitman em seu “corpo elétrico”. O movimento Transcendentalista Estadunidense, com Emerson e Thoreau, também comungava profundamente com o mundo natural para descobrir que, em assim o fazendo, eles se tornavam cada vez mais plenamente humanos.
O Mundo como Eu
O mundo como amante é complementar ao mudo como eu. O sujeito (o amante) e o objeto (o amado) não mais são separados. O mundo é um todo interligado e cada indivíduo é um nó na teia viva da vida. A tradição hindu oferece a imagem da rede de Indra, na qual cada nó é uma joia que cintila com o reflexo de todos os outros nós. No pensamento budista encontramos esta ideia expressa no conceito de “originação dependente”, ou causalidade mútua. Hoje esta percepção também surge no campo da ciência – em geral na teoria de sistemas, na ciência da complexidade e na física quântica. Estamos descobrindo que  mente é imanente na natureza e se estende para muito além dos espaços de nossos objetivoss conscientes individuais.
Como você opera dentro de cada uma dessas visões do mundo?
Como você  vê essas visões do mundo sendo expressas no mundo ao seu redor?
Cada uma dessas visões é igualmente válida?
O que valida mais uma do que outras?
O autor Robert Todd Carol nos alerta sobre uma concepção equivocada de que “o que forma um paradigma é relativo e subjetivo e, portanto, puramente pessoal e sem ligação ou prova na realidade. Alguns daqueles que acham que criacionismo e evolução são concorrentes paradigmas ou teorias cometem este erro. Pode ser verdade que todas as teorias e crenças sejam até certo ponto ‘subjetivas’, mas isso não significa que todas sejam igualmente úteis ou prováveis ou até do mesmo tipo”.
Fonte: Saindo da Matrix
Edição: Shakyamuni

FONTE: http://estaremsi.com.br/o-que-e-um-paradigma-e-as-metaforas-pelas-quais-vivemos/

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